1 de out. de 2011

Gratidão- garrafas pet



Passei por tuas mãos
e senti tão bem o teu suor,
que com rigor te dei
nos favores incríveis da tua sede
o doce e o claro que tanto implorastes.

Mas por não mais possuir, completa
em tuas mãos, nem tua boca
cheia de necessidades falseadas
ganhei por troca ingrata,
sem chances,
amargo descarte.

E nesse maldito destino verde que me jogaste
no bater de sujas latas, o embate
assinaste por mal, meu bem, o teu emplasto desterro.

No vento lançada em desespero
e sem poupar-me do que é raro
de morto rebote, boiando no escuro
percorre-me lágrima e lodo
ao som das ratas que ama
o desprezo sujo.

A minha carcaça não morre, contudo
suporta os golpes mais duros,
(meu curvo corpo imune)
e minha alma remói
em cada mácula-vácuo, o teu futuro:

Se no sul ou norte nasceste
não vale mais que o sol
o orgulho do teu bairro
sequer quinze centos do meu montante em raiva
barata, porém eterna.

Se muito neste mundo venha fazer
tamanha água com teu choro
ou, se como pedra, ferro e tijolo
permaneceu seco e mudo
nem me darei conta
pois deles não sou feita.

Se o teu peito pulsa
ao invés de bater como o trivial
ou canta o teu coro em sambas ou bossas,
canastrões todos que me obrigaste a sentir,
o meus ritmos serão perpétuos
e minha canção, outra
toda alheia às tuas letras bregas,
tuas declarações dadas por hora.

Caso um dos teus cinco,
quatro ou dois pequenos
venham de tudo provar,
de tudo rir,
de todo te pondo no alto
saiba pois que deles
nem em memória lhes será guardada
porção mínima do teu asmático zêlo.

Começou com uma frase boba e confessional de uma mulher desprezada, que retalhou o marido em Dezembro de 1922; me chocou quando achei que parecia mais com uma garrafa a falar.
Sigo tentando terminá-la .desde 2006.

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