1 de out. de 2011

Black water




As enguias astronômicas, negras, rugindo da terra imunda amarronzada, exalada com consistente dolo pelas fezes caprinas das crianças pobres africanas transpuseram o vagão principal do trem em que eu, ou uma carcaça cover de mim aproximada, e outros desconhecidos viajávamos. Logo, de minhoquinhas pretas, se transformaram em sanguessugas, depois em cobras fecais imensas, infecciosas, que tomaram conta de toda a Terra; a bosta que fizemos desejava vingança, queria volta, já não era a nossa; os vales, a água pura, os algodoais bonitinhos de cinema já não eram iguais; eles eram agora negritude, darkness mesmo, da pior que há, da que quer troco; da que não engole calada os mandos que capricham , e lhes capricharam tanto, pra prova do abandono e da morte. As enguias agora querem tudo o que foi roubado, tudo o que elas nem sabem direito pra o que serve -o metal dos meus dentes canibais- Estão excitadas como najas azuis da descrença.

Nós, os nojentinhos, os chocadinhos, os de sapatos tão limpos, os turistas da existência himenóptero-urbana-sem-asas, agora vamos, nem pisoteamos, elevamos o salto; Não há mais botão de emergência, nem área de escape: a cidade, as armas, os trens, os aparelhos, o comando já não eram nossos. Era agora o tiroteio subterrâneo que sai, catando os calcanhares da gente.

Acordo e então escrevo olhando pro chão e pra televisão, enquanto o café preto treme, com a culpa e o medo bem disfarçadinhos. Amanhecendo.

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