31 de ago. de 2012

Falta de Luz, III

  
Parte III

Mas o que é o isso a que se deu o nome de Deus?
Sou eu?
ou
São os meus avós?
É um fato, uma concepção no escuro, outrora...
ou bálsamo que passo no rosto para sofrer menos?
É o medo do abismo do escuro definitivo, indefinido da morte
ou a crua carne que evito e apenas cumpro?
É começão coletiva de sereno e saliva cantada tristemente
do vivo para que não me vivas,
do morto para que não me morras, e não me mate?
É um muro...
é um dia...
é um clamor de dentro do hospício...
ou de qualquer orifício da história guerreira?
Eu não quero arder em chamas, desde que não esteja só
contigo,diablo meu.
Quero entender rápido a mentira
antes que me enterre o engano em desatino
e me caia nas mãos um envelope morno escrito teu nome
dizendo que não queria existir
apenas para mim
e me assinando “sou ateu”.

Falta de Luz, II

Falta de Luz Parte II

Não me adianta o enfeite
é noite
e vestido como confeito porco rastejo
serpentina ilustra o jeito
como bebi tanto
e me debati antes de desistir
e agora sou obrigado a me sentar e ouvir o hino
“Nossa pátria venceu com calor de todo abraço
toda guerra, com a flor da diplomata
e com carinho, sem desterro em seu laço
toda miséria, toda essa dor, eliminada!”
Ilustra a valsa da partida esse grito mouco,
e a cor do teto, caquética-eu
não me torna menos indiferente que a verdade do som do televisor
fora de tempo
o leite transborda
retorno a vida
ao presente que me dou
de ser zica – me aproprio da voz jovem na esperança de que me vingue–
O farol se abre, é preciso eliminá-la...
bebo mais; há três lugares para a poesia:
as minhas ideias nulas, os meus gostos cardios e de luas,
e o lugar-comum
em que removo máximas dos teus olhos,
maquiagem amarga.
Continuo bebendo.
A canção complexa termina
surge uma estrela,
menino preto assim que dribla, o soco no ar,
faço pedidos no vento
é o futebol!
Preceptar o gol, catimba braba.
É a nação do esquecimento
devo esquecê-la também
contente a saber que não vai ser crua a lágrima
nem minha a vitória
dor da margem à ilha alta,
que sou (?)
recrutada da trágica e silenciosa curva
que faz somente por confeito em tudo
ao passo que ranca, parede, unha, escama
a despeito do bailado ritmo
memórias gastas.
Resolutos de amor
a palavra que se forja em lança
e a má palavra,
só ela acolhe sem coletes sem cortes no meio da noite.
É preciso tirá-la da luz
trazê-la à calma
que divulgar o verso pode ser o meio de magoar ele
é preciso ser torto nessa hora;
não chutar,
mas dizer ela aqui dentro
fora do show da nação amante
ser amor pós aurora sem alturas,
tão brilhantante como um olho cego
para relutarmos
e sorrir na cruz.

Falta de Luz, I

 Falta de Luz I

É de noite
e com bruto despeito eu busco o sono
ar rebento com falta de ti, querida
e é por questão de métrica que me deito e enlaço
o beijo ao ar, braços corridos no tempo
sobra tanto pra te catar em sonho, marezinha...
e tu
te avança pra longe quente e mate,
a mim na azedura mascava que falta
o teu semblante;
é por falta também de recanto que fecharas pranto
conto que a minha breguice devora....
É noção de pensamento fino
arte'doente saber que não estas minha
nua e baile
dançando na mente quando está tão acordada,
viola e recruta à viagem de máquina silenciosa
nessa mente ruidosa, que é só brinquedo e minha
quando descansa a nossa ira
a fazer só,com essa dança sem cera
produto de furor, contínuo, de seios horas
brilhantantes,
ora distantes
mãos na lua
até que acordamos,
ô, se acordamos, sonharmos perto
sem luvas e curvas de orvalho
no vidro;
a ermo, baralhos de sinos,
cortados,
Sob a claridade de sermos
Falta de luz


18 de ago. de 2012

Num bairro moderno

Toda gente são quadros;
não se pode gostar deles só em vê-las
antes é precisão vencer o medo
e sem de repentes notar lhes as cores,
os maus gêneros,
ser crítico de arte pra contemplar a certeza lógica no olho
e com o coração vulgar a mil!
Expôr pro seu mundo. Cura a dor.

Perro no Mucho


Me desculpe o meu cabelo bagunçado
chegar assim e me deitar no seu quarto
sacudir as vestes que o teu corpo já viu
e as unhas deixar nu em couro o seu sofá...
me perdoe também o mau jeito,
meu beijinho desastrado
e meus problemas com a fala.
Estenda-me o tapete após o banho
que eu o torno minha artificial fragrância em cheiro
de novo, de terra.
E quando vais
e vejo te da varanda
faz sereno meu bafo no vidro
que quase digo quando dói-me à espera;
dorme enrolado o meu desejo
meu mau jeito sem volta,
boca ferida. Amestre o meu medo.
Amo,
amo, amo,
onde está o teu punhal
o teu conjunto de ossos retos?
Que de estalar os dedos, jogados gravetos, me levam a ti?
Meu amo
amo
amo,
pronde foi o teu apito
pra te lembrar de que existo?


5 de ago. de 2012

nonsenseAmorderno

Chegou  bem ontem
uma peste rala no teu olho:
maquiagem;
foi e desdisse que os pratos eram dois abrigos...
e escorreram as tuas raivas:
costas,
curvas
cravos
silvas;
bairros quebrados
pois foi que bárbaro o fato,
já estavas com outro;
tava e era já o meu terno
com James, com a cuica
e mimeógrafo pra hacer panfleto de phodasse
e tava, não mais eu teu sinhô,
 tudo pronto pra ir s'embora.
O ódio elétrico pelo meu terno
e o jeito com que engomei o peito
cheio de sabão de obra clássica
mereciam além do esquecimento,
talhou a lingua que agora tinha um prego,
uma bruta lente de aumento
pra raspar as barbadas cruzes das figas
e sim, é tudo isso que cê tá pensando!
Borboleta bem avante
pra casa do canário.

4 de ago. de 2012

22 e 23


Palavra de Louco, variante I

O louco um dia veio
e falou como a chuva:
-Eu fiz um ensaio nu!
Sobre o nu do Sertão:
o nu do chão, sem grão
o nu do céu, sem nuvens
sem garças,
e a nudez do bucho
do cabra,
homem sem chão
sem nada.
-e secou o grito.

Palavra de Louco, variante II
O louco chegou um dia
e gritou como a chuva:
-Eu fiz um ensaio nu!
sobre a nudez no Sertão:
a nudez do chão, sem grão;
a nudez do céu, sem garças
e nuvens,
e a nudez do bucho
da cabra
do homem
cabras sem chão, sem nada.
-e secou o grito (no bé).

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