21 de out. de 2012

Saiba

Me dói tanto
troncamentos de flores de gentes novas caídas
ao vento
ou levadas sem juízo ao céu, dizimadas.
Pétalas de pivete riscando a própria árvore
de dançarina vulgar ferida à bala,
ou pétalas de princesa, acidentada no fechar de baile
e o mal-estar silencioso, mímico,
que inscrevi nas minhas cascas impulsivas e frias que tanto requentou ao tempo
As peles das cascas de árvores estão todas gastas
E a febre, como todo o vento que passa
desabala folhas e más ruínas
doces, sólidas, intactas.
Sofrem desprendidas, defuntas magnólias ainda
choram decididas ao caso do próximo norte ser sereno.
E finquei rente à cerca delante ardente rancor de sentido, fronte e marca
colher da colher das frutas
mínimas
não são mais elas minhas
que o chão já carcomeu as mais brutas;
quem sou então,
de tentar eu o máximo podre curvar de esquivo ter-te?
As nozes, as morangas, e de novo às cascas
são ahora dissolvidas...
imundas, dissimuladas num pátio cor de metal
que se reluz pra dentro da própria imensidão, descompasso
desobedece as tuas crias, amor de morte
e as tuas leis curiosas, salgadas
e a brasa que os livros tudo reformam.
Vivemos quentes e moles e achamos tudo isso maneiro
perto dos trabalhos infinitos do mundo bate mais meu coração
diante de ti, que se derreteu em vós, de tantas outras
como Ruanda infectada, saiba.

17 de out. de 2012

Tem gente que diz saber onde corre o boato do suor e da voz fraca, do coração batendo, da vista lua cheia azul até em teto de mármore, mas desconheço, nunca vi. Jura que tem na boca o sabor restante para quando mesmo o velho se vá encontre mais um, em si ou no além, numa fila de posto ou velório, o tédio reciclando a vontade de cópula, como copos de cerveja que se deixam meios pra se beber outra vez, e outra vez, e outra vez; essa cor de tentar à alma um lance, mais um de ficar piscando as luzes entre pálpebras, cílios avessos, mentiras de cara e roupão, hospedagem múltipla de sentidos, no coração chuveirada, me trouxe desconfiança sempre. Se perde o juízo quando tem, e quando se procura justiça, não há mais, está tudo roubado. Dizem que o amor roubou os fatos, destruiu as provas e forjou a inocência; mas não acredito nem no crime, nem no ladrão.

Piscam mais um pouco mais, sem luz, em amarelo o semáforo, o sinal, e a sinaleira. O amor está espalhado no subsolo dos cantos da terra. É a serpente danada na selva, que só se sabe quando está perto pelo chocalho tilintando, batendo de vez aquele apavoro em que já está perdido, pensando ser tudo verde e água. Veneno raríssimo e intenso, penetra sem calma por panos e inúteis calças e botas de tudo quanto queira em delírio, na seda plebe, no rosto coxas, na selva neve. E está assim o inevitável da decência perdida, que decadente estrela se largou do puro por tanto desejar as redomas de vidro, tanto medo. E se por milagre retorna a enargia após o beijo, e o trânsito serpentinizado volta a ruim monotonia do barulho dos carros e seus faróis demais por simples e fortes, está ainda . O peito necessita retornar ao trabalho. Larga em casa mais uma pista de tinta amarela para que o bicho retorne e te encontre e te morda, e o efeito doce não passe, por entre os dias de convívio e não se borre nunca de creme ou coisa mais fraca que há, mas só se fique densa como o tempo, teimosa, cada vez mais propensa ao vermelho.

Mas não creio na loucura, nesse calor de onda que se bate quando a febre ainda nem se instala, nesse frio de abandono que não nos liga, acusa, tumultua, ofende. Pareço crer mais no choque do que na distância bruta tua. Meu sentimento mais duro se resguarda em colchão, colcha, brega tênis-de-mola. Eu pareço te vender quando quero, e te fazer empréstimo quando preciso de reparos, por um tempo. E embora sejam, amor e eu, portas de frente e dos fundos de dois estreitos, me penso que saio por entre os dois desejos: o de currar por de trás, e o do beijo, sendo necessário por isso torcê-la, fazer-te manca, por você num cubo, sem respiração... Mas a dor se desloca, mariposa noturna e fera. Outra vez bate asas e espalha poeira sobre um texto velho. E eu não sei se derivo da mentira ou minto de maneira genuína; como verme, sim te cerco como se já não vivesse folgado te consumindo por dentro, mas nego, ainda nego...

A rua está toda marcada com soberba, e os ternos recheados de alguma vida. Pedras tão cruas que se vestem a fino linho, assim eu me mereço, como tal homem que rejeita o amor e some, por dentre o preto da noda encoberta do sabor da trança de cabelo que a minha mão alcança, e não tenho medo. Mas os dedos ficam com as pontas dormentes, como quem não deseje mais o toque no piano, e a desconfiança fica aliada da ideia muda, que tenta se despir de fraque, voltar para o adiante do beijo. Mas há cocaína em terrenos cheios de cobiça. Se recorre a ela ou aos remédios, pra fazer sua reprise, simulacros. Se há amor no comercial de alvejante, ou na blusa feita sem carinho por imigrante clandestino, não sei, continuo não o vendo. A reincidência persiste, não tranco as portas de casa; me contamina o brasa inconstante do fero bonito e breu. É escuro e retorno. Há quem diga que me oscilo e contradigo nisso, me engana o que dorme de olhos abertos e unhas. Ferido eu corro, sigo enganando também, com o frio, copos de vinho e dança. Sobre a minha cama o alvará de soltura, que se sabe ser minha nota plena de confissão, amassada pelo ruído da respiração dupla e carregada, e constante conquanto me atei; agora só, vai meu peito brincando de se fazer duas, pulmões de quatro e corcovas, simulando-se, enquanto o teto cheio de estrelas se aproxima do coração e afaga com o quente do passado que vejo e, como astro do céu, que pode já estar morto há mil anos, clareia de falsa luz o instinto da esperança e o esmaga, amor de supernova. E assim nasceu a descrença e a mentira do não se brotar nesse abismo, ladrão da meia-noite, a quem deixamos diamante em cofre aberto e carne pronta em madeiras sem toalha, amor sem endereço.

13 de out. de 2012

O céu se fecha e a vontade insiste em permanecer tímida, mas não calada; sei que é ofensa dizer que por uma vez eu grito, arranho alguma coisa pra cima do tórax, faço tosse, cheiro, toco o meu nariz, acalento a irritação, tenho mais do que incomodo e reflexo; tenho vontade de espirrar na hora certa. O certo não há. Não vem sequer o involuntário do tempo mínimo entre o ócio e a aflição por estar bobeando tanto, não escrevendo. Parece que em mim agora é tudo chuva... Mas me censuro de acordo com a conveniência de ser assim estático... me censuro de que a chuva é o que amo, ainda que eu teime em querer matar essa palavra, devido a ser mínima assim para o que não cabe numa agulha mas fere o mundo com o doce que tanto falta por mais que comamos ele, o amor. A fome nunca se mata, e insistimos em ter desejo, em sermos homem, moça, menino, pátria.... Pátria, pois, porque nos usam do amor também para o engano, a bandeira e a guerra, onde a paz corre noturna sobre o falso do holofote. Amemos as luzes e esqueçamos dos tiros... mas a tortura do claro se vai como um espirro que varre, me espalho espalhando, não me encaixo no perfeito ébrio do contido, sou infectum.

É que a vida escura me atrai ao sentido da felicidade atoa, o lado outro dela, quando fecho os olhos para promulgar o ato, tal como o Norte da bússola numa montanha fixa e rica, que eu fico girando com a ventania solta, magnética. Eu percebo cada gota que vem, meu rosto-formiga e é tudo tão contínuo que não posso deter... Eu dou o nome a cada uma delas: umas verdade, uma mentira, outra doçura, e a melhor delas, felicidade. Chamadas assim como em aula, alunas, exército em ordem, desobedecem a lei do mediano e pertinente e me passam sem que se escorreguem no comum dos lugares ditos, escolhidos... Me captam completamente vivo e desfazem a minha célebre doença, de oscilação. Não muda em mim nem um sentido mais de palavra, o nexo segue o seu rumo, que é o de rumar de volta para a reciclagem do seu resíduo, dando nos mesmos itens transmutados em uma raiva, cor, obstrução, volume, intensidade, consciência, resultado, objetividade, lentidão, processo, ironia, eficácia, concisão, atrapalhação diferentes dos significados do início, daquele que nem nos lembramos, e nem me queixo. Queixo de boca, ou de queixar-se mesmo sem razão, agora um só, quebrados por um doce maravilhoso feito no tacho do atraso milionário de um semi-escravo que não conheço, que não se reconhece...As mãozinhas brancas de vampiro fazem em formato de coraçãozinho malsucedido os quebra-queixos. Um meu, e um seu, sem que se parta mágoa alguma com os dentes. O céu permanecendo como sempre quis; nuvens dançando sem se reclamar das palavras-garças, que por hora de fome deliberam à pesca do meu siso. E uma página sai.
Agora é noite, quase dia, e a incipiência da claridade na réstia construída no vidro do banheiro faz lembrar saudade; da que não sabe se quer de fato o dia. Uma certa canção ruiva e comercial, mas nutritiva, no dial do FM, com os versos de que houve outra estação na estática apatia da não-mudança da dor, na dança de um silêncio que se repete por não ter mais como se dizer, a perda da autocrítica no desespero, torce o pouco pensamento em ruído espesso, e esse ruído na vontade de pensar nesse frio tormento de sol chegando entre nuvens, mais uma garoa, nesse quase tal de Por enquanto .

O namoro incipiente tem mesmo, como noite indo pro dia, dois movimentos. O de ficar e o de ir. O de ficar, que é o de êxtase transformado em extasia, é o do carrapato, que chupa tudo e engorda da caça, dorme apoiado na farsa do trabalho do roubo, finge que explode quando ela ameaça partir de vez, se enruga, murcha, até que o couro do outro por alguma pena sucumba de novo, de novo, e de novo... Carrapatos se nutrem não só do líquido vermelho do afeto, mas também da bondade sem freios do ente que vive como um alvo seu no pasto, vez ou outra abanando a cauda, mas nunca sacudindo de veras para que o dependente da paixão se caia. Amor muge e dá em bandos. Quando estoura é fácil ser atropelado por ele ou por uma de suas reprises erradas, principalmente em imaginar que se pode contê-lo, como o faz o boiadeiro ou o Peão. Mas se sabe que o bicho indecente e minúsculo não pensa, não se mede, não quer se pretender igual; não existe laço, pois é ele mesmo corda, nó e laçado. Para sempre.

Segue desse jeito até que um dia, garantido alimento farto, certo do seu destino de ser o sangue-do-sangue do outro, mais que irmãos, se descuida e cai na grama, e perde de vista o amo que some. Lentamente acorda com um número errado, gosto azedo na boca e uma casa sem mobília. Nem os quebrados de Real se encontram: móveis das brigas e camas das madeiras baratas relincham sozinhas. Tenta procurar na geladeira uma lembrança, um pouco do sangue; na agenda busca eventos com outras mulheres parcas; tem más lembranças de todas, e nutre-se agora do restante da que se foi, em conserva na sua memória e nos vagos fios que digere de macarrão em lata. Terá que se acostumar com tudo assim. Congelado. Se sabe que não... que não pode viver como um inteiro o que só aprendeu a ser um e meio, a ser o meio do uno outro. É impraticável sugar a própria lembrança e tirar dela o denso pó de pelos de barba crescida e suja, por se esquecer de si por tantos anos, todo santo dia...praga por praga, um a um...

O de ir é o de fato o vai-vém da cauda pros espancos de ameaças fajutas, de quebra de objetos quebráveis, quadros, cinzas do cinzeiro, quadros poucos valiosos, carrinhos de bebê, garrafas vazias de quaisquer droga, aquários vazios, discussões, calmarias...O de ir é o para sempre, na vez acidentada última, quando nota o de-ficar carrapato caído e salta depois de ruminar desejos e descambar à cerca. O de se ir é o para sempre do sempre durar até a véspera de Natal, quando se cria juízo e uma avó, já morta, donte pra visitar. O interior é longe e os fios não se conectam bem... Não há como telefonar para fora nessa distancia braba, e geralmente falta luz; tentar sair dessa cidade calma e imaginária é se lustrar com barro, é o que geralmente se alega, e o escape pro mundo se faz pela carestia das fichas. Estamos em Dois Mil e Doze... Se emenda o calor de Janeiro no pré-luto dado de certo, e o Fevereiro no carnaval das mágoas, e ela fica um pouco mais. Se afoga toda a dor da mente num Março de Águas, bem peto de Junho, Julho, Setembro das flores apertadas numa quina, um outro número de telefone escolhido ou telefone nenhum, pra nunca mais voltar. Correm pelas guias amarelas e cinzas e por entre as máquinas as águas da liberdade do degelo, e em algum canto da cidade um parasita murcha de desencanto e lágrima sem o guizo.

11 de out. de 2012

Lar do Oscilar II

Lar do oscilar
é estar deitado na rede
enquanto se caminha o universo desconfiado
com medo de cair no fogo;
o meu recreio, como sempre,
é falar o quanto balanço
vendo o mar de azeite, ora
e vezes de perfume caro
e ter a costa de refúgio esquisito
cheio de suor
para quem tem água e terra dentro do mesmo barco:
se tiro o naufrágio da inundação e ponho longe a causa
de casa, amigo
com baldes e rápido como um santo que se doutrina são
ou se salto para fora do afogado e procuro o chão firme
é tudo cair em areias minhas e só
fugir da minha tempestade,
ou abraçar minha secura e renegar o secreto e curvo de ondas
de ondas
de ondas
de ondas minhas, salgadas
é de se crer que eu não esteja enjoado de mim
nem do si, que fui tu outrora
e agora sou eu mesmo de volta;
é bom saber que o falar assim também oscila na nossa língua
às vezes se torcendo em nada,
às vezes desaparecendo sem que nos ouçam na mesma história
marinheiro ruim e náufrago...
Lar do Oscilar é achar o relógio muy vago
que volta sempre antes de mim pro mesmo canto
e ainda bem sorri quando faltam quinze para as duas do meu eterno atraso...

(...continua, oscilando)

Beijo

Beijo



- É verdade, é verdade...

- É...

- VERDADE?!

- verdade...

- Verda...



...

- esse café é e(x)presso?

-Não sei...

-Verdade?

7 de out. de 2012

Eleições/ texto absurdo e ruim sobre o absurdo e o ruim.

Na noite que foi e eu estava nela matei uma blatta no chão do banheiro. Aquele bicho marrom comprido de antenas, assassino cruel das noites quentes. Bem lembrei que as blattas são escolhidas pela natureza para espalhar o seu imundo sentimento de culpa por serem tão feias, tão mal-amadas, distantes, às vezes voadoras, outras invasoras de potes de açúcar, mel, nada escapa. Mesmo sabendo que morrerão logo elas se espalham, hediondas, e quando penso que matei a última, a blatta-rainha, saldando de uma vez o medo, me vem saber que as blattas, borboletas da maldição, de tão amargas que nem pra mariposas deram, que não têm coragem para surgir durante o dia, e se surgem é porque já são a peste dona de tudo sempre se devoram; isso mesmo. A que matei ontem e não recolhi, por medo da alma morta buzuntão da finada, à espera de formigas que não apareceram, foi reposta no estoque por outras, das quais uma comeu lhe o intestino e as partes cremosas que separam o couro da asa das patas.
Não posso dizer que foi menos competente da minha parte renegá-la, mas tive medo de assombração de blatta, que deve ser pior do que o próprio inseto. Nunca fui fixo na ideia de que deva existir atormentação de gente, mas delas, tão pequenas, meu pensamento sempre pendeu mais para a certeza do que para a dúvida. Fico imaginando uma praga tão forte, imune ao spray e ao chinelo, voando, aparecendo e sumindo em qualquer lugar... Na verdade seria como em vida: imortal, derradeira, enxerida. O veneno engana e deixa elas tontas pra se enfiarem em qualquer buraco, e nos ilude em dizer que matamos. Ambos satisfeitos, o teatro feito e encenado, ou mais tarde elas voltam, num cômodo escuro, um batente de porta, com outros nomes, e a gente pensa ser blatta nova, e se assusta com ineditismo troncho, e ela ri. Eu volto de novo pra ela, parece que morreu no ralo; antes meditara como havia dado nesse mundo tanto abalo, em mocinha e em bandido; e é absurdo como tanto faz que seja mais uma a morrer nessa nossa interminável guerra com CFC.

4 de out. de 2012

Lar do Oscilar




Lar do oscilar

Eu pretendo variar,
mas
a minha vontade mesma de oscilar
          se oscila,
                     lá
e cá...
no pensamento mais agudo:

balança para lá,
para amores vívidos, a minha sorte, o inseguro...
os meus filhos;
e cá para o vaso em que estou
com flores e o silêncio,
sobre o consenso nunca regado.
Lar do oscilar.


3 de out. de 2012


À mão armada

- Dá, dá, dá, dá, mano!
-quê!?
- Dá!
- !
- !!!
- tá, tá..
- ?! Dá! ... Tá! Tá! Tá!
Não vai sair no Notícias Populares. Celular rosado vibrando.

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