21 de ago. de 2017

Análise do retrato de Tatiana F.

Análise do retrato de Tatiana F.

Um sofá preto
Um cabelo negro
Um café escuro
Uma pele turva
E nada mais. 

Eu pensei que não estivesse mais viva, posando assim
Ou que nem esteve limpa
Na sujeira seca da poeira mais seca de seus olhos
Uma ruga curva atesta, completa
E nada mais.  

Viva nem está de olhos,
Mais viva em meus olhos
Cabelos pretos, desgastada
Viva onde eu vivo, uma escuridão que eu perco porque cisco e piso
Quando enfrento o dia
O ar que recupero cinza não enche nem seu pulmão direito.

Você é um risco que pode se ir amanhã
Na aurora grotesca, mas não vai – nem vem.

Um sofá,
Um Cabelo,
Um café, uma pele
E nada mais.

O seu vômito do mundo real eu não posso ver
É como tecer a mão ao vitrô de um espelho
Eu só posso te notar
E não te viver

Entre os estilhaços um sofá turvo
De suor das suas costas impregnadas aí
Um café preto como os goles
Das imagens de um belo museu visto num dia alegre,
Uma pele preta
Clareando e rodeando uma chama mínima, que resiste
Por hoje, entre esses cabelos ricos.

E nada mais. 



8 de ago. de 2017

Brega



Brega

Achei que fosse um desmaio
Mas era só uma nuvem passando frente ao sol.
Isso é brega.
Imaginei ser um terremoto,
Mas era apenas  a fome apertando os pés
Sonhei que pudesse amor,
Mas era o frio na espinha
Mas o ônus de me enganar foram os filhos e os nervos da Glia.
A natureza é brega
Como os rios que de curvas
Se interrompem,
E se carregam.  
Perna deformada, unha feia e mãos com fome,
Conforme-se
A natureza é delas, daquelas,
Da queda,  é brega.
Casa comigo, vou morar com você num sítio...
A natureza é brega
E a fisiologia dos convites também.

Pensei ter uma felicidade
Mas era só coceira nos arcos da miséria
Sim, pode ser só ânsia de comer sem doiduras a paisagem,
Pode ser só meu ciclo mensal chamando a sangue ou a raiva
A natureza é brega
Por ser tesão de graça
A natureza é brega...
Só que a decisão do saber antes fosse minha
E a dó dos bichos também não
A natureza é brega
Tem o seu tempo
Trabalha contra o bonito da vontade  
Cerque o rico, mine o campo, explosão tudo, que nada a vence. Brega.
Pensei ser opinião, mas era um surto, um mau jeito.
A natureza é brega e se revela sem casca.
Padece que tremendo o bote
Balanga o peito, trovoa e chove
Sendo porém sós
Tão envolvidas lágrimas limpas
Aí certeiro!
Cemitérios
Que a natureza é brega
Fora de linha
E nada bolero toca de si.


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