13 de jun. de 2015

O ícone @




O ÍCONE

O ícone está morto. Bandeiras ao lado; elas ficaram em pé por tanto tempo, quase aladas na ignorância dos nacionalismos, que ninguém teve a coragem de sacar nelas meio pau, elas permaneciam como se o herói nacional ainda estivesse vivo. Foram recolhidas todas as janelas com cortinas azuis e largas, que involuntárias diriam que o povo já nem tinha pretexto pra corar os dentes; Os estudantes da nossa pátria já não se sentiam contentes em decorar fórmula alguma; projetos, nomes, carreiras, diplomas eram todos encerrados com bruta calma no país brasil. Sim, calma, porque não existiu berro ou revolta. Nem assim! O ícone estava morto, e não havia mais razão nem para briga: o ócio e o movimento viraram um coiso só nas avenidas, sendo que o trânsito ficou estático no vazio do zero por hora. Poucos pedestres riscavam as faixas dos centros das cidades, e o setor financeiro era só o luto dos papéis sem valor de ação de uma economia colapsada. Para quem e o quê vender, além das caixas de faixas negras, comprimidos, metade e inteiros para curar o choque pela morte? Parcelamentos ficaram subitamente inúteis; não se sentiam vontades de se pôr brilhos nos braços nem nos olhos. Roça, nem sequer metrópoles daqui.

Um guarda aposentado reapareceu no seu posto na Rua Mercúrio, falaram, pra tentar fazer contravenção ao pessimismo da família e foi enxotado pelo vento e o silêncio dramático do que parecia uma cidade do interior, até antes da tragédia passada, uma cidade grande; agora é Agosto, e poucas coisas ocorrem fora da curva. Os homens e mulheres e os que há entre eles ficam em casa a lamentar um passado de glória, sedimentando a falta do ídolo, céticos de sua saída deste mundo. Esperam notícias, vasculham páginas de internet, ligam e desligam o rádio. Só podem estar mentido, só podem, não é crível, é sabotagem, gritam alguns no buraco de oito milhões e meio de quilômetros quadrados, um fosso na crosta do mundo;um lugar que nunca quisesse ser descoberto ou maltratado. O guarda fechou o portão que ninguém arrombará. Não há a quem pedir perdão ou simular. Açoites para quem, agora, na nossa costa, Deus? Nas nossas costas, não...

A manutenção de rua já começava a faltar nos postes de luz, nos fios de telefones; ninguém conseguiria com racionalidade conectar coisas inertes se o que nos , o que lhes, o que se fazia importante se foi. Portões e porões de celas afrouxados. Mas, por curiosidade, não ficou ruim sair à rua. Na verdade, não se pode notar o que houve com precisão, pois o que tinha sobrado depois da morte era o viver, o cada qual pelo qual e si só. Vencidos sete semanas do fato, e o luto não acabou, não tinha acabado em nossa pele; o brasil não tinha se recuperado, e se perguntaria da necessidade de tal? Da falta daquela imagem? Toda piedade e afeto normais eram escassos exceto, e com muita exceção, pra dois Namorados na Sé deserta, olhando um para o outro num futuro sem espelhos e sem choro . O ícone estava morto.



Juliano Salustiano.  



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2 de jun. de 2015

Décimas do ladrão de carros.





Décima nua do ladrão de carros.

Peço perdão à rua escura
que no pecado me forjou –
ladrão de carros que eu sou;
mania que não tem cura –
onde estás você eu não tô!
Quem me dera na vida ter,
um Porsche e ser bem amado
mas ambos de cadeado :
vivo e não deixo viver
roubo e temo ser roubado.


Décima crua do ladrão de carros.

Peço perdão a essa rua escura
que no grande pecado me forjou,
do nada, ao ladrão de carros que sou.
Tenho a mania que não tem cura,
que é andar só e onde estás tu eu nunca vou.
Quem me dera nessa vida má eu ter
talvez um Porsche e ser bem amado,
mas atar a ambos com bom cadeado,
pois eu vivo e não deixo viver :
o ladrão rouba, e teme ser roubado!






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