15 de jun. de 2017

Sem obstáculos


Sem obstáculos 

Sem obstáculos. Sem obstáculos o trovão vai longe; parece perto, carece eterno. Sem obstáculos o som do caio cai mais certo que um corpo, que caído uma vez, não termina seu destino. Sem obstáculos os braços apalpam sem mãos de ambição a crosta da Terra, sem cinismo há flores e se resta, presta. Sem obstáculos não há elevadores, tudo é todo rastejante e infesto, mundo incerto, tato avante, sem o de cor e aberto. Sem obstáculos se retira a portaria, o gradil e o parque-de-brinco, não tem anéis nos bolsos, não tem reuniões infinitas, não existe estudo sobre a insatisfação. Sem obstáculos, mesmo que pudesse encontrar, enfrentar outros olhos no hall, um novo a cada dia, gosto de lágrima, não seriam outras retinas na reluz a ver nádegas polidas, e não seriam outras a ver de volta olhos a perder a linha, se perdendo então até a maldita porta, pra calar outra vez o ensaio do que não vai ser concluído, para ser mais nada com o entulho chamado obstáculo. Sem obstáculos; obstáculo é o entulho com nome de plaza, piazza, de C.D.H.U, de sobreloja. É república inválida de siglas erradas, governada pelo paratortido da mágoa. Sem obstáculos o sangue vai longe, o ar para o bem disperso, e os urros para o infinito. Sem obstáculos o rosto no vento é filtro singular e nada mais. Dois entes iguais, sem as paredes da do social, da do de serviço, das garagens seriais, das dos arranhões do fisco, e no céu no escuro, da do silêncio polímero frio com as forças das penetrações rápidas e breves; da das discórdias isentas, de recipientes, de vasos de plantas artificiais, ou de encanamentos. Obstáculos. Sem obstáculos se pode chorar, vomitar e ter glicose nas atitudes. Sem obstáculos o rito é apenas abrir o olho, fechar todos os olhos e existir. Tão caro e tão barato que o ato se paga com os lucros em si mesmo feito, sempre efeito, sem obstáculos. Sem obstáculos: vive, sem obstáculos mato, mata não retribuída; sem obstáculos voz levante na lama sem asfalto, indo para o interior domim, sem dormir, interior do país. Sem obstáculos, uma bomba terá o efeito de um jamais, e uma lambida no beiço e o amor, portanto ecoarão mais ... Ainda mais que o som de todo artefato. Sem obstáculos, um copo de cerveza é o mar, e o gole seu é a cauda que foge da areia. Sem obstáculos a única ruína é o corpo e o único limite é Serra-do-mar ou a chapada de se des gastar. Sem Obstáculos!   



Juliano Salustiano


Imagem: Salar de Uyuni, Estado Plurinacional da Bolívia.

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