Já tinha me esquecido de como por fora um pouco todo o mal através da palavra escrita é benéfico. Normalmente eu vou acumulando, acumulando, feito nuvem, como um alguém sem vento e só quando não me aguento mais despejo. Muita gente julga que essa capacidade espongiforme, de ir só absorvendo a vida seja um dom, uma coisa preciosa; essa muita gente, ao observar a vida mansa que o meu olhar falsamente frio e calmo reluz, acaba concluindo que sou doce, brando, disperso. Outros ainda, mais corajosos, ensaiam que em mim enxergam uma certa perversidade, um poço de mania e ódio perto de transbordar.
Depois de muito ouvir a vida, vindo de fora, conjecturas tortas a repeito do que de verdade sou, decidi iniciar um exercício capaz de botar medo no Usain Bolt . O levantamento de peso, o boxe, a ginástica-mais-que-artística e profundamente obcecada , dos ritmos e dos balanços mórbidos de desavanço não possuem nada que seja próximo a esse flagelo imenso. Nenhum vitral de Igreja ortodoxa, nenhuma gotinha de sangue bem pintada de imagem barroca, derramadas em milagre, pagam o valor ou relatam com devida precisão o drama das vias do conhecimento voluntário da própria alma. Nesse movimento em direção ao escuro nada, que não promete os relatos da vida santa, muito menos uma redenção final, após dias de sangria e morte, eu tive de iniciar a primeira sessão de mergulho e realizar aquela bateria de condutas reprovadas pelo bom senso anterior e mórbido do cômodo-estado,o de ser muitos, o de ser o mim-do-menos-1.
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