2 de set. de 2011

C- ticismo

C- ticismo-14



A salamandra, ou lagartixa de rico, que larga na sua parede, na sua rede,
a sua cauda
imagina que pariu, desolada, salvadora alma
O estreptococo que tenta avariar cada célula sadia,
driblar o estetoscópio e o raio gama
pensa ser só esse o seu negócio,
que suas vítimas nasceram apenas para esse propósito.
Meu cão, que balança o corpo e o rabo
pra dizer que me chama tanto, que me ama-em-intuito
pensa de mim que sou cachorro grande
de duas pernas, preto e magrelo.
O homem quando vê a vida
pensa estar nela tudo acertado e contido;
um universo que sempre gira sorrindo
mesmo quando coveiro tapa o buraco, sem os dentes.
Pode me cuspir o meu cético sentido, mas não pretendo ficar restrito
às mínimas condições gerais.
Não quero ser cachorro de mim mesmo,
bolôr de pão ou vida tranquila;
eu quero me devorar
e apodrecer pelas mãos da dúvida:
escapar pelos dutos da minha existência
para que se não houver amanhã
eu encontre , à luz do menor valor que fui,
o movimento acelerado dos raios de uma certeza atômica-menor,
que não pensa nada, 
e está no mundo. Um ponto-tudo.

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