4 de set. de 2011

Dádiva




Me sinto tão inútil pelo fato do amor. Não que a sua existência me admire ou me espante sem motivo, mas sim porque a sua vizinhança comigo me entristece. É curioso perceber que sempre quando o vejo, em qualquer situação, parece que tenha visto qualquer coisa oposta a ele. Eles sorriem, eles te querem, eles torcem pelo seu sucesso, riem do que você diz, abrem os olhos quando você fala sério sobre a vida. Então eu abro a porta pensando que a paranoia vai passar. É o nosso aniversário. Não deveria ter deixado que eles entrassem assim, de tão ternos que dá até pra sentir o cheiro do mel quando me abraçam, ainda que eu não fosse um paranoico-sinestésico. Eles se vão no fim da noite e eu penso onde eu tenha errado tão pouco para ter merecido a tal ponto esse muito.
O amor me entristece, notei, não porque ele o seja, todo amoroso e rosa-em-cor , mas porque é tão bonito, tão piedoso, tão sem medo, sem coragem, sem qualidade boa ou má, que chega a ser aquele espaço imenso e vazio de substância, mas gigante o bastante para que caibam nele todas as essências, todas as vontades indistintas e pequenas, como a Terra no Sistema Solar, o Sistema na Via Láctea, ou da Via Láctea dançando como uma aspirina doida no íntimo do copo do corpo de deus, que chego a pensar não ser seu merecedor. Penso não ser bom a ponto de poder ser acolhido por esse vazio-cheio do amor, tão importante, tão universal, e que pode ser ejetado num sorriso, num bolo quente, numa lágrima. Eu durmo com trancas mais fortes nas minhas portas e janelas.

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