Mais uma vez, tento restaurar tudo o que havia perdido. Essa memória persistente de quem, mesmo sendo incapaz de esquecer uma só vírgula, sempre se rói e se deixa consumir pela vontade de deixar qualquer coisa gravada, faz com que eu recorra constantemente aos excessos da prosa prolixa, ineficaz. Talvez isso seja um exercício a mais, uma punição que denúncia minha instável relação de psicodinâmica com os restos de mundo e de mim.
Essa entrega aos parágrafos largos, aos projetos medíocres de conotação pseudo-ensaística nada possuí de substancial; de algo que possa ir além de sintomas coléricos de ansiedade e de ócio. Creio que admitir isso seja um passo bem importante para me livrar do peso diário de ter que abrir meus antigos documentos, e de maneira amarga me confrontar, obrigatoriamente, com minhas conclusões a respeito de suas efemeridades, tanto de tema, como de estilo e linguagem. Um balbucio de menino que treina suas primeiras e inconclusivas sílabas, uma ameaça de morte vinda de um malandro de mentira, uma cantada vaga na moça inatingível, dada no fim da noite pra somente cumprir a si mesmo a promessa de tentar e dizer.
A essa bala que chicoteia, mas não atira, a esse festim gráfico a que estão resumidos os meus vadios relatos resta dar um encaminho correto , menos incômodo e agressivo. Minha letra me faz lembrar um resíduo perigoso, do tipo pilha ou bateria, que não pode ser jogado na terra, sob o risco de matar tudo ali existente, além de não permitir que por séculos algo de vívido venha renascer. O que resta agora em mim é reciclar a alma pra servir-me de religar ao tudo.
"cumprir a si mesmo a promessa de tentar e dizer." o ser humano é sempre isso. tolo é aquele que acredita que se comunica. e no entanto, apesar da impossibilidade, permanecemos tentando.
ResponderExcluirO mais doido é que, justamente esse trecho que você destacou não estava na versão "original". Essa frase, justamente essa, eu inclui bem na hora da postagem, com aquela dúvida da tentativa.
ResponderExcluirO original era "Um balbucio de menino que treina suas primeiras e inconclusivas sílabas, uma ameaça de morte vinda de um malandro de mentira, uma cantada vaga na moça inatingível, dada no fim da noite."
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