27 de ago. de 2011

O tédio me comendo solto II

Mais uma vez, tento restaurar tudo o que havia perdido. Essa memória persistente de quem, mesmo sendo incapaz de esquecer uma só vírgula, sempre se rói e se deixa consumir pela vontade de deixar qualquer coisa gravada, faz com que eu recorra constantemente aos excessos da prosa prolixa, ineficaz. Talvez isso seja um exercício a mais, uma punição que denúncia minha instável relação de psicodinâmica com os restos de mundo e de mim.
Essa entrega aos parágrafos largos, aos projetos medíocres de conotação pseudo-ensaística nada possuí de substancial; de algo que possa ir além de sintomas coléricos de ansiedade e de ócio. Creio que admitir isso seja um passo bem importante para me livrar do peso diário de ter que abrir meus antigos documentos, e de maneira amarga me confrontar, obrigatoriamente, com minhas conclusões a respeito de suas efemeridades, tanto de tema, como de estilo e linguagem. Um balbucio de menino que treina suas primeiras e inconclusivas sílabas, uma ameaça de morte vinda de um malandro de mentira, uma cantada vaga na moça inatingível, dada no fim da noite pra somente cumprir a si mesmo a promessa de  tentar e dizer.
A essa bala que chicoteia, mas não atira, a esse festim gráfico a que estão resumidos os meus vadios relatos resta dar um encaminho correto , menos incômodo e agressivo. Minha letra me faz lembrar um resíduo perigoso, do tipo pilha ou bateria, que não pode ser jogado na terra, sob o risco de matar tudo ali existente, além de não permitir que por séculos algo de vívido venha renascer.  O que resta agora em mim é reciclar a alma pra servir-me de religar ao tudo.

3 comentários:

  1. "cumprir a si mesmo a promessa de tentar e dizer." o ser humano é sempre isso. tolo é aquele que acredita que se comunica. e no entanto, apesar da impossibilidade, permanecemos tentando.

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  2. O mais doido é que, justamente esse trecho que você destacou não estava na versão "original". Essa frase, justamente essa, eu inclui bem na hora da postagem, com aquela dúvida da tentativa.

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  3. O original era "Um balbucio de menino que treina suas primeiras e inconclusivas sílabas, uma ameaça de morte vinda de um malandro de mentira, uma cantada vaga na moça inatingível, dada no fim da noite."

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