15 de ago. de 2011


Adeusanada



Ela gosta demais do que desfaz
não abre mão do seu único tédio
do ócio de não saber meu nome
cobre demais a vida de sério.


Ela ainda está noite- e-presa
mas não que largar da sua jaula
sente o cheiro do mundo e o rejeita
destranca sua cela e não fala


Ela gosta muito de miar
de rugir calada pra dentro
e enquanto o canto não cala
abafa esse berro em tormento


Ela sabe muito bem como ser nada
de misturar com esse jeito de ser amada
a aranha que levanta a teia
costura e tatua o veneno, em veia alheia


Ela já é tantas, tamanhas, que não pode ser uma
usar a pupila pra rir
sem fechar o buraco que espuma:
uma ave suja a parir.


Tanto faz agora quem foi
a tal bela do riso breu,
pois corre o rio aceso do soy
que pra já ter siso pereceu.


E enquanto a palavra insiste
meandrando mil-vidas à pique
adeusanada segue a barca em riste
morrendo à vela, a vida em palpite.

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