15 de ago. de 2011

Elefantíase, esporro de Mamute ou prolixidade...


O que não quero ser




O poeta não pode
deixar a vida continuar
ele deve ser o temido, o rugido desperturbe
desespero da morte
anjo sombrio

Ele não pode permitir que o dia nasça
sem que aconteça em seu suspiro,
até que o sol respingue, se canse e se deite,
desistindo do brilho;
dos holofotes seus,
do seu reverso.

Ele não pode admitir
que gota branca, cristais mórbidos agudos
que vêm na cabeça e na cara
tenham o nome chulo de chuva;
deve deixar que as facas e os raios
entrem e queimem tudo:
dos pensamentos dos homens
à palavra-circuito

Não pode fazer com que os manés sejam
sem que não saibam que não o são,
pra que assim os descubra
e ria mais quando se vão
em vazio-vaia
sem verso bom.

Não deve entregar o seu sorriso magro
de um jeito fácil, o seu amor, a qualquer dança;
O poeta deve ser dente da boca,
som da música mais alta que tem
da contradança,
da discor-dança

Não pode abrir também o braços
como se ele fosse uma janela
grande e antiga, de mansão nova e cuidada;
tem que federomaisinsanocheiro,
estarnuno maizestranho trevo
no vazio em chão da sua mente bagunçada

Deve, por isso,
chafaricar na lama deste mundo
nos infernos das Guatemalas que há em toda esquina
do universo mínimo das crises chagais que não se resolvem
e espalhar
o cistos dos ricos riscos dos seus versos,
misturadosaanojeira

O poeta não deve ser o outro
pensar no outro,
nem viver nos dois, três, cinco separados;
um na hora do aperto,
outro pra levantar o tempo na hora do seu erótico
e mais um pra quando for cair de bêbado.
Ele deve ser tudo o que for
mestiço a qualquer hora
pra poder rir das rimas
das mortes ou da aurora;
como um balaio cheio de roupa colorida:
imundaprosa.

Não deve ser o biólogo ou botânico
pra ficar brincando com rosas,
espinho, margaridas ou violetas;
não deve ser também flor
daquelas que seguem o giro do sol,
nem das que se abalam e caem com o mal-
-tempo;
O poeta deve cheirar a toda aurora,
abrir e colorir quando quiser
ser o eu-ópio na sua primavera,
e se trancar quando achar que
tudo fede, e ir dormir como um humano. De ressaca.

O poeta não deve possuir a chave exata
tem que ir tentando, no escuro dos dias
a tranca mais frágil da entrada de cada alma,
de cada pensamento;
tateando com gosto e faro,
ser um invasor, espírito que desce
à casa,
modificando o corpo
contorcendo o rosto.
fazendo o cavalo-de-santo-do-leitor
piar alto
Shiva, Xangô, calor e justiça
bradar o desconexo até que caia
'tilll it bleed, 'till it bleed!
todo fantástico aos seus pés...

Ao poeta isso é dito: que não saiba que não sabe.
Que seja inconsciente, inconsistente puro
despejado do prato
odiado, não premeditado
das emoções .
Deve acordar sobre o colchão do ridículo
pisar pelado pelo chão do trivial;
deve vestir-se de hilaria-mente irônico,
colorido sem cor, contraditório
e grudar pelo mundo afora todas as infecções do amor,
ou das doenças mais brandas do viver, tão necessárias.

O poeta não deve admitir que santifiquem
ou idolatrem seu corpo. Que somente antifiquem
ou o estuprem.
Não pode virar estátua,
nome de passagem ou rua urbana.
O corpo do poeta é por onde todas a
s
d
o
re
s
escorrem,
depois de virem fulminadas como relâmpago
seco e reto,
esticadas,
que se estancam por ali e não saem pelo chão
e ficam presas nos seus braços
nas palavra da sua garganta, no seu ódio
nas suas culpas, nos seus atos todos.
O corpo do poeta é o para-raios do imundo
não é foguete,
não é festa.

Não deve se preocupar
com o uso inadvertido do que diz;
deve ser portar como se não fosse seu
o cabide de mentiras que conta,
que ão menos ditas do que as mais cruéis.
Ao poeta é fazer cair a toalha
ser briga viva
sangria à mostra
de quem não gosta
nem que seja ó por rima
para fazer nojo.

O poeta não deve parecer poeta pois,
além de pouco possível
manter todo o trejeito sem graça
vai acabar não parecendo poeta
por tanto poeta ser;
Ser um não-poeta de um jeito errado
é como nunca viver,
e estar numa casa de verniz ,
de fachada
com cupins cavando no seu dentro,
jogando poeira pra fora
fazendo dele mais lixo e menos bicho, bicho-em-gente
um faraó que se estraga no seu próprio túmulo
por falta de ventilação.
Ser um poeta-do-não
em seu jeito mais certo
é estar disposto à vida,
ter unhas e forças pra resistir
aos ataques dos que quiserem
te dissecar vivo
e te enxertar com aplausos
e entupir seu fígado pela goela
com compromissos confusos e regras;
e evitar que arranquem seu coração
e te preservem dos salgados, gostosos vermes
e te julguem conforme a estrutura de seus versos.

Ele deve ser de tudo
o quanto puder
para apressar o apocalipse
na inversão de tudo
a desabalar o sol
e enfeitá-lo de brisa;
ou sorrindo das coisas más,
impróprias e dez-autorizadas
escorregando nas próprias palavras:
Um caça-palavras ativas,
um perde-palavras da vida
um poema que se acaba,
inconcluso, à deriva. Seja.



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