30 de ago. de 2011
Fotos
Cada pensada é um olhar só
como vai o da fotógrafa, que registra tudo e ama
e não sabe qual dos dois amores vem nela primeiro,
se o de ver ou o de pensar;
ou o do maquinista,
que em cada ato
em cada parada do trem,
projeta como imagem sua
o seu amor todo proutro lado:
Lado de casa, da família,
se é que ele ainda tem isso,
ou se de tanto ficar ali fechado
não já virou produto passado
filme em rolo ou máquina gasta
a espera de que o troquem.
Horas registro,
horas amo
horas resgato;
se sou máquina, homem ou mulher amada
cada um deles a cada segundo que passa
não me resta outra palavra
que não seja a da foto
que não seja a da lentidão indecisa, magenta,
acinzentada.
28 de ago. de 2011
... II
Super-Egg
Parte I
Ego e tormenta
Sessão II
Uma semana de papel, doente e fraca, passa rápido; isso se descarta como folha branca recém-usada. A gente acaba voltando, revoltado, mesmo quando não gosta da coisa, ou quando a coisa não vai muito com a gente, não sei por qual motivo; mas quando se está em branco como essa página foi um dia, qualquer vento te leva pra um turismo no esgoto mais sujo, que aos poucos vai ficando aceitável pelo costume até que o nojo se torne nosso primeiro e último amor. Sem ter o que pensar estava eu outra vez dividindo a sala de consultas usada para que os estagiários da clínica psicológica praticassem suas venturas. Eu estava na frente do mais frio monumento visto pelo homem desde que olho e homens há; perto do mármore fundo e escuro no qual estava talhado o corpo e as ideias de Grajew. Aquilo que era mais ou menos um encanto, mais ou menos um todo. Gelo. Um Gelo-corpo.
O gelo, então, batendo em copo vazio à espera do gim ou do suco, caiu derramado em mim; ela finalmente perguntava algo muito doce e profundo, uma coisa que não existia nos livros e manuais de nenhum cata´logo de loja ou biblioteca; não era frase histórica, cheia de barulho mentiroso pra abrir muralhas fortes, nem a palavra do frade ao moço novo, que lhe dá a última chance para que se arrependa antes do “sim” maligno e eterno. Era a voz mais grossa e dura, de vez, pra falar de maneira pura o inefável nome do princípio agradável e amistoso de papo: “como foi a semana?”. É claro que digo que isso tudo vai passando descrito como só fosse uma bíblia toda em traduções de monte revisadas, e diminuídas, e aumentadas demais, nunca chegando ou permitindo o repouso do escrito sobre o certo, mas, como é, se passa em milésimos de segundos, sendo que a palavra dita mal ter haver com a pensada, que nem sequer pra escrita arrasta mais que qualquer migalha de tudo que coloria o sofrer. Ela abriu e fechou num ritmo paulistano e macio a questão de mim, não sabendo eu se era o sinal de que o gelo tinha cansado de ser gelo pra virar refri ou bebida mais forte, ou só um atalho imenso, daqueles que todo mundo, ou quase, faz para encurtar a monotonia da vida, seja paciente, seja terapeuta.
Olhos baixos novamente. Trabalhei o dia todo antes do encontro os pensamentos; alinhei cada puta palavra, sem palavrão, com retidão, em barulho; um legítimo midle class, meio íntegro, meio atento, meio belo,todo em nata, um nada. Era esse o tipo que convinha à Grajew ver em sua consulta com mais de um em tantos outros, imagino, necessários para lhe completar, se não em experiência de parto e de vida, ao menos a carga horária de estágio na clínica para que se formasse um dia; seria uma midle class completa e escrita, graças ao meu silêncio filho da puta. Repetido palavão. Hoje ela está possivelmente menstruada, pensei; não sei por que causa pensei, talvez seja só a perversão crua e mais instintiva do inconsciente, ou apenas canalhice do supper-egg, a frágil casca do ovo que separa a gente do bichos menos repletos, da gosmenta e estranha verdade, que de provável também seja amarela como a gema, ou mais vermelha e tensa até, como o desnascido embrião do galo ou do pássaro, vai saber (…) Força interna é, da mais sincera, assim como o cão fareja a sua pareia no deserto eu sentia sinistramente o mediúnico fato, sendo bastante um mágico, sensível muito mais pela prática diária do que por qualquer dom(...)
Queria muito que ela desfizesse esse círculo, que ia como refrão de qualquer tipo em minha cabeça, que repetia rimando em perfeição o são: são, ssão, o ção, truação... Aquele pensamento ordinário e safado de antes que ainda ficava; quando tentava ir prum assunto mental capaz de conciliar os diversos lados da motosserra existência minha, fazendo muito claras a sondagem sobre o gelo, o passeio nas distinções de cada peça de roupa, de cada célula morta, de cada jeito desatento e desinteressado de se portar daquele átomo bem pequeninho, bem terreno, perto demais dos outros pra chegar à ideia de si mesmo, mas se querendo fugir lá da laje da biblioteca do prédio vizinho...Minha espiral, mais sem nexo que o tudo, fazia meu impulso derreter qualquer elemento material, qualquer figura que pudesse ser calculada com exatidão, ou mesmo a distância mais banal, das medidas à trena ou fita eram todas e todo, que já me perdi na fala, de só vontade infinita de ficar ali planando, ignorando as coisas feias desse mundo e entrando mais uma vez, com a voz do quieto de Grajew ao fundo, na balada insana e culposa-doce do “São-ção”, como se me desviasse daquela frieza toda de mulher séria(...) Dito e a sessão termina sem ferimento ou lágrima.
27 de ago. de 2011
O tédio me comendo solto II
Mais uma vez, tento restaurar tudo o que havia perdido. Essa memória persistente de quem, mesmo sendo incapaz de esquecer uma só vírgula, sempre se rói e se deixa consumir pela vontade de deixar qualquer coisa gravada, faz com que eu recorra constantemente aos excessos da prosa prolixa, ineficaz. Talvez isso seja um exercício a mais, uma punição que denúncia minha instável relação de psicodinâmica com os restos de mundo e de mim.
Essa entrega aos parágrafos largos, aos projetos medíocres de conotação pseudo-ensaística nada possuí de substancial; de algo que possa ir além de sintomas coléricos de ansiedade e de ócio. Creio que admitir isso seja um passo bem importante para me livrar do peso diário de ter que abrir meus antigos documentos, e de maneira amarga me confrontar, obrigatoriamente, com minhas conclusões a respeito de suas efemeridades, tanto de tema, como de estilo e linguagem. Um balbucio de menino que treina suas primeiras e inconclusivas sílabas, uma ameaça de morte vinda de um malandro de mentira, uma cantada vaga na moça inatingível, dada no fim da noite pra somente cumprir a si mesmo a promessa de tentar e dizer.
A essa bala que chicoteia, mas não atira, a esse festim gráfico a que estão resumidos os meus vadios relatos resta dar um encaminho correto , menos incômodo e agressivo. Minha letra me faz lembrar um resíduo perigoso, do tipo pilha ou bateria, que não pode ser jogado na terra, sob o risco de matar tudo ali existente, além de não permitir que por séculos algo de vívido venha renascer. O que resta agora em mim é reciclar a alma pra servir-me de religar ao tudo.
Ao som de "When I'm Sixty-four"
Aqui estou
eu velhamente de novo, marrento com o mundo;
reclamando por tudo
Doido de vontade de fazer frear
a rota louca
do absurdo.
Me acontece que mal sei
se o enganado certeiro me cruza
pra retratar com olhos feros, fazer barulho com coisa curta.
Tolas são as marretas com que minha boca xinga
que de tanta espera pelo certo,
se batem tanto, por toda a vida.
Um outro nome pra dor I
Lá fora as luzes não têm fim
cruzam no meu céu calado os futuros discos,
os frutos benditos do meu maldizer;
Afoitas por cabeças espreitas,
foices de chafariz.
Arara, piaçava,
vassoura e metrancas bravas
libertam tudo para que não sobrem corpos,
para que não subam almas.
Alfaiates, alferes nojentos
vão tecendo o barulho e o fogo,
de conforto estrondo, de confronto lento.
Momentos magnéticos que atraem a agonia
e os fluidos elétricos,
desligados do sangue perdido na madrugada...
Lá fora, as tais luzes de novo
partem os véus do futuro misto
os futuros mortos, e das futuras ideias;
por dentro correm só
suor seco e gelado
gemido confuso, gargalhado.
Tem um soluço oco no meu portão
e uma poça de ecos ao fim da estrada.
Muitas sirenes, muita correria;
eu já parei, já vivi
e já quis morrer de cego,
de tanto notar os castigos
e de ver os escuros traços,
cada vez mais nítidos,
deste nada tão antigo.
24 de ago. de 2011
Provérbios, parte I
"Nós amamos as coníferas canadenses como nossas irmãs, mas condenamos com veemência suas práticas promíscuas fotossintéticas, bem como a heresia capital do autotrofismo".
O tédio me comendo solto.
.Em casa. O princípio nunca varia, é sempre do mesmo jeito. Mesmo lugar, mesmo inicio, mesmas palavras. Mas o frio que corre na espinha toda noite,a minha circulação gelada e as coisas do medo que me toma parecem ser, apesar de esperadas, sempre inéditas.
Mesmo um dia relativamente feliz e calmo, como o que tive hoje, as vezes é rondado por uma tristeza, por um medo, por uma sensação íntima de fracasso, que costumo deitar e dormir pra isolar, ou então disfarçar com um riso bobo, ou com uma música do meu gosto.
Mas ser pego por ela assim, no meio dessa noite quente, deste forninho moral e escuro, é algo que me prostra muito. Me soca na cara a culpa, por ser um péssimo vigia noturno e deixar que este monstro invada; me esfarela em mil o medo de tê-la como uma fina certeza de uma tempestade que possa cair no próximo dia, próximas noites, me inundar todo de novo; me desmancha num chorinho de agulha, calado, de notar que não tenho armas, tato ou notas que sejam boas o bastante para caçá-las, prendê-las, e então ter meu dia de forra, de folga, de uma finita , mas inteira, felicidade.
Educação, parte I
Vá à bosta
mandou dizer a prima à obra
o espinho à rosa
o verso à prosa
Vá-se quem gosta
de ser bem lustrosa
ter conforto à roda:
Palmas? resposta ?
Vá à bosta.
22 de ago. de 2011
21 de ago. de 2011
20 de ago. de 2011
...
Super-Egg
Parte I
Ego e tormenta
Sessão I
Eu só queria dirigir o meu Chevy. Mas ela era obstáculo de final de rua de terra, empoeirada, na sua cara. Tinha aspecto difícil, como a própria palavra aspecto parece querer esfregar na cara nossa e da gente com todo o pó; Nem saia da condição dela mesma enquanto sentava e cruzava as pernas de gambitos, que com aquela sainha florida dava pra ela um jeito de Eva nova lá do Sinclair; depois disso, o magro corpinho, moreno, com sardas distribuídas pegas não sei de onde, puro charme, se arrumava na cadeira do consultório e aí começava a sua arte de não estar. Eu hablava, como um bom paciente metido a paciente bom. Hablava, falava, spoken sem has, com ré, marcha à diante, risonho, ousado, tanto fez e faz. Nada mobilizava de início aquele corpo pra algo que fosse a borda das apresentações que a formalidade faz para encobrir os constrangimentos. Nada mobilizava aqueles olhos magros, aquele corpo, pretos como a tinta dessa caneta, nem aquele cabelo ajeitado, bem liso e oriental, que se precisava salvar do vento, mas não das chuvas; sabia a terapeuta Míriam como ser tudo só estando ali: só me ouvindo, ou então viajando no último sorvete tomado, nos últimos beijos dados em qualquer parte, de uma conta de água abusiva que pensava ser motivo para início de uma batalha judicial infinita(...) Batalha por metros, centímetros cúbicos de dignidade.
Ela era do jeito que tinha nascido e crescido, pronta para esconder de tudo; os tais olhos serviam para que ela repelisse o medo, num enfrentamento natural e ojeriza mútua que a escuridão tem dela própria; repelissem também a insônia, a sorte, o ódio, a risada, o olho do outro e o seu mesmo em qualquer distância; era digna e pura a minha heroína do blasé terapêutico moderno semanal; não queria saber se eu era feliz, se torcia para algum time de futebol, se eu me contorcia de loucura da minha Tênia-solitária-sentimental-refratária que insistia em não ficar pra vida satisfeita (…) Agora eu tinha dois vermes: um dentro que me matava pelas culpas das mortes de que ainda eu não sabia, não me revelava; um outro de fora, que sem um movimento, sem diploma e sem lamento, já me fazia anêmico da minha piora e da minha estranha relação com o mundo que, aos poucos, me cuspia mais para dentro dele, e também dela. Uma hora na sala escura. Continua depois, na próxima sessão.
19 de ago. de 2011
Then you begin to make it better...
Eu tô como um neutrôn
irrelevante à vida.
Não te amo
nem te rodeio;
e como nenhum desejo,
vai meu verso:
Spin de mim!
coisa bela,
tentante,
tão positivo medo!
18 de ago. de 2011
me diga
O meu coração bate mais forte nas anginas mentais, voluptuosas
e espantado, diante da minha contundente semelhança com o mudo, implodo-me, calo-me
O barulho que saí, se é que há algum que ousa e se exorta
acaba saindo em sonido velho, de dedo em corda*
tão sem querer e sem cuidado
da música em vitrola, em disco de acaso, que me chia.
A agulha que me fere, bate de repente
dos tantos pensamentos convulsos, saltados
dos meus murmúrios agressivos, de sons baixos
que querem gritar, mas não podem,
querem viver, mas não pedem
somente me arrepia, me queixa, todo chorado.
Não me explodo,
não me grito, não me valho.
Tanto o Poema
E para que dizer que amo, em pedra, casca de árvore ou poema?
E para que dizer que quero, gaguejado , com tanto reparo, em coisa velha?
Se posso querer e amar
tanto em carne e alma, como pensado, em esquema
para que então tanta casca? Para que então tanto o poema?
E para que dizer que não
em calma falsa ou fechada licença
se em cortina ignota, ou batida porta posso acabar com a cena?
Ou para que gastar-se em triste canto
de varandas altas, epopéias claras
se posso, em irregular manto ,
cobrir-te do tanto que queixas ter falhas?
Para que então tanto espanto?
Para que então tanto dilema?
17 de ago. de 2011
To Date, too late
De tão célebre
que somente eu me conheço,
dos meus sentidos,
e de tão bonito
o renegar do meu interno riso
o meu dabate
comigo mesmo eu sigo
E tão intenso
é perceber que eu caibo
numa quadra, ou num soneto errado
e que repentino eu me expulso
pra meu conturbado solo mudo.
E solitário
revirando do avesso
no farejar de um motivo vago
surge bem de jeito e claro
acelerado e vivo passo.
Tão logo eu me deparo
pra me atentar, de bom gosto
pro que eu pareço
pra de vez me recostar no mesmo,
nos braços cruzados, sem desespero.
E antes de que eu me fosse
por mal, de braços outros
ou por bem, de santa morte
sem guerras, paraíso e sorte
Será o meu rumo um sonho todo
de intensa estrada, faróis de forte/noite*
Sem Nome1
Houve um tempo em que os homens não possuíam rosto. Em meio à fala fosca, sussurrada, de cada grito de ordem, ou das desmedidas e raras carícias, tentava emergir, feito bóia, um conjunto desordeiro de idéias, sensações; fabulações talvez de um pensar raso, inconcluso, ainda não baforido. Instinto.
16 de ago. de 2011
São Paulo, Paulo Insano
"Não tem no nome o seu barulho
tampouco antigo ar arrependido e puro
do Santo cavaleiro convertido.
Assim é a terra dos pontos
da letra minúscula,
das reticências da falta de tempo
das inconclusivas investidas amorosas.
Terrinha em que não há tempo
nem para curitir um par de chifres:
Os prédios sempre serão maiores
do que a sua dor
Mínima dor-salário
entre trocentos milhões de pulsares."
Paulo Insano
O vibrião da felicidade
O vibrião, o embrião, a condição
era o que bastava
pra que a desculpa se fizesse verdade, se usasse
e como toda a gente, que já sabe
que sempre encontra no riso a razão da graça
e sem pedir a quem desfaça, notório disfarce
se ilude, se mente, e não se mede
Não força a sagrada distancia
do mundo que se sonha, do concreto
das duras vias do fato
do que se apresenta incerto
Completo,
nem é mais questão de ser o teto do mundo
momentâneo moribundo que acontece
a vida num relâmpago
que não sabe de onde vem
dez mil volts de magia e perigo dispersos.
15 de ago. de 2011
aspdobandoerrante
Asfixia (Ônibus)
"O lotado, o abarrotado
as sacolas,
os gritos,
e o vento, só o vento
entrando pelas janelas
batendo nas orelhas, repito
e vozes
batendo nos ouvidos"
Paulo Insano
1990
Acaso disse um dia um amigo meu
Que a poesia era a imitação da vida
Expliquei, porém, de volta, e sem voltas
Que a poesia é só o mal
só o queixo do erro
e o erro sou eu,
demasiado eu
a percorrer papéis e espaços
a esgarçar,
tropeçar e forçar
um novo teste eterno pra quem já é velho
antes mesmo de possuir quarenta;
é bula-cura pro calor sem febre
o diploma sem formatura
É ter de dançar sozinho
a valsa sem trompetes, sem a paixão
dos meus quinze anos junto ao peito;
É com cedilha,
ter de grafar,
erroneamente exato,
o coração.
Zagallo's fake love
Com 13
Adorando as notas em dó menor
Tem lembranças que vem
De um passado um tanto maior
Que os tempos dos beijos contêm
Sem rima, meu deus!
Seu Deus, outra vez? Não, porém
O instante comum aos dois
Num encontro por certo disperso
Moído nas calhas da gente
E reiterados no verso
E o violão, madeira nova insiste
A buscar-te, treze toques, indolente
Desafino, é mais um desatino do que se sente.
Elefantíase, esporro de Mamute ou prolixidade...
O que não quero ser
O poeta não pode
deixar a vida continuar
ele deve ser o temido, o rugido desperturbe
desespero da morte
anjo sombrio
Ele não pode permitir que o dia nasça
sem que aconteça em seu suspiro,
até que o sol respingue, se canse e se deite,
desistindo do brilho;
dos holofotes seus,
do seu reverso.
Ele não pode admitir
que gota branca, cristais mórbidos agudos
que vêm na cabeça e na cara
tenham o nome chulo de chuva;
deve deixar que as facas e os raios
entrem e queimem tudo:
dos pensamentos dos homens
à palavra-circuito
Não pode fazer com que os manés sejam
sem que não saibam que não o são,
pra que assim os descubra
e ria mais quando se vão
em vazio-vaia
sem verso bom.
Não deve entregar o seu sorriso magro
de um jeito fácil, o seu amor, a qualquer dança;
O poeta deve ser dente da boca,
som da música mais alta que tem
da contradança,
da discor-dança
Não pode abrir também o braços
como se ele fosse uma janela
grande e antiga, de mansão nova e cuidada;
tem que federomaisinsanocheiro,
estarnuno maizestranho trevo
no vazio em chão da sua mente bagunçada
Deve, por isso,
chafaricar na lama deste mundo
nos infernos das Guatemalas que há em toda esquina
do universo mínimo das crises chagais que não se resolvem
e espalhar
o cistos dos ricos riscos dos seus versos,
misturadosaanojeira
O poeta não deve ser o outro
pensar no outro,
nem viver nos dois, três, cinco separados;
um na hora do aperto,
outro pra levantar o tempo na hora do seu erótico
e mais um pra quando for cair de bêbado.
Ele deve ser tudo o que for
mestiço a qualquer hora
pra poder rir das rimas
das mortes ou da aurora;
como um balaio cheio de roupa colorida:
imundaprosa.
Não deve ser o biólogo ou botânico
pra ficar brincando com rosas,
espinho, margaridas ou violetas;
não deve ser também flor
daquelas que seguem o giro do sol,
nem das que se abalam e caem com o mal-
-tempo;
O poeta deve cheirar a toda aurora,
abrir e colorir quando quiser
ser o eu-ópio na sua primavera,
e se trancar quando achar que
tudo fede, e ir dormir como um humano. De ressaca.
O poeta não deve possuir a chave exata
tem que ir tentando, no escuro dos dias
a tranca mais frágil da entrada de cada alma,
de cada pensamento;
tateando com gosto e faro,
ser um invasor, espírito que desce
à casa,
modificando o corpo
contorcendo o rosto.
fazendo o cavalo-de-santo-do-leitor
piar alto
Shiva, Xangô, calor e justiça
bradar o desconexo até que caia
'tilll it bleed, 'till it bleed!
todo fantástico aos seus pés...
Ao poeta isso é dito: que não saiba que não sabe.
Que seja inconsciente, inconsistente puro
despejado do prato
odiado, não premeditado
das emoções .
Deve acordar sobre o colchão do ridículo
pisar pelado pelo chão do trivial;
deve vestir-se de hilaria-mente irônico,
colorido sem cor, contraditório
e grudar pelo mundo afora todas as infecções do amor,
ou das doenças mais brandas do viver, tão necessárias.
O poeta não deve admitir que santifiquem
ou idolatrem seu corpo. Que somente antifiquem
ou o estuprem.
Não pode virar estátua,
nome de passagem ou rua urbana.
O corpo do poeta é por onde todas a
s
d
o
re
s
escorrem,
depois de virem fulminadas como relâmpago
seco e reto,
esticadas,
que se estancam por ali e não saem pelo chão
e ficam presas nos seus braços
nas palavra da sua garganta, no seu ódio
nas suas culpas, nos seus atos todos.
O corpo do poeta é o para-raios do imundo
não é foguete,
não é festa.
Não deve se preocupar
com o uso inadvertido do que diz;
deve ser portar como se não fosse seu
o cabide de mentiras que conta,
que ão menos ditas do que as mais cruéis.
Ao poeta é fazer cair a toalha
ser briga viva
sangria à mostra
de quem não gosta
nem que seja ó por rima
para fazer nojo.
O poeta não deve parecer poeta pois,
além de pouco possível
manter todo o trejeito sem graça
vai acabar não parecendo poeta
por tanto poeta ser;
Ser um não-poeta de um jeito errado
é como nunca viver,
e estar numa casa de verniz ,
de fachada
com cupins cavando no seu dentro,
jogando poeira pra fora
fazendo dele mais lixo e menos bicho, bicho-em-gente
um faraó que se estraga no seu próprio túmulo
por falta de ventilação.
Ser um poeta-do-não
em seu jeito mais certo
é estar disposto à vida,
ter unhas e forças pra resistir
aos ataques dos que quiserem
te dissecar vivo
e te enxertar com aplausos
e entupir seu fígado pela goela
com compromissos confusos e regras;
e evitar que arranquem seu coração
e te preservem dos salgados, gostosos vermes
e te julguem conforme a estrutura de seus versos.
Ele deve ser de tudo
o quanto puder
para apressar o apocalipse
na inversão de tudo
a desabalar o sol
e enfeitá-lo de brisa;
ou sorrindo das coisas más,
impróprias e dez-autorizadas
escorregando nas próprias palavras:
Um caça-palavras ativas,
um perde-palavras da vida
um poema que se acaba,
inconcluso, à deriva. Seja.
Sadismo e a Guerra de Espadas.
Está certo que a gente sempre acha ser um pouco mais explosivo do que na verdade é. Está certo. Está certo também que se repete a mania de achar isso em horas em que machucamos bastante o outro, açoitamos ele, até que este admita voluntariamente ser o único culpado pela surra. Depois, como é de costume, açoitamos nos a nós mesmos com mais força que o desespero; toda aquela festividade, aquela cor do infinito prazer de queimar, e dilacerar, e amputar e deixar em cinzas puras e escuras as mãos e os braços, e se possível o espírito do outro, vai dando lugar a um colorido de espuma e lama, em que a chama se vê no espelho, se seduz e ao mesmo tempo se condena; se cobre de culpa maligna e finge uma vez na vida ser o menos, para então voltar a ser pólvora ou veneno, e outra vez colorir, encantar e torturar o seu casinho de dor.
Assim como decorrer qualquer vida não indica persistência
ou declamar escolhido poema não denota tinez de sentido
é conhecido que tornar-se íntegro ou aguerrido é atividade solitária,
mais que obrigatória.
E que amar corretamente é não falar sobre amor,
não fazer verso.
E que vividos os dilemas, bem ou mal acompanhados
dos que serão notórios os fatos, o teu não passa,
em anonimato.
É bem feita em pedra essa lei da existência
como a sua canoa que parte
e os remos que os teus braços pretendem ser
deitando vãos, pesados, contra as correntes.
1666
Ares vermelhas
Olhos profundos
Corpo fechado
Dores do mundo
Caso sem fim
Mares de início
Fendas abertas
Lábios de vício
Ponte de serra
Lago de sal
Ferida de guerra
Camiho igual
Por ti que assim
Guerra e terra
Mar e fogo
Faz penas de mim
Ti que assim
Traz amor
E em forma de troco
Faz mares de dor
Ti, que tão somente assim
Teima querer matar
Ao santo devoto
Que apenas quer amar
Vênus alada
Tempestade profunda, viciosa
Guerreira e fada
Calma e em mim perigosa
Amada noite,
Em perverso instante
A dama a sangrar, por fim, em foice
pudor pretenso amante.
A me lembrar, contra a vontade,
de cada palavra,
de cada verbo
de repetir e inteirar, incessante,
feito um choque, o nada-mudo
no silêncio que corrompe
como máquina avante,
que não permite que eu me cale,
que me põe vivo,
eu mergulho numa ciranda sem canção, sem aviso
em que o dito é, de mãos dadas comigo,
a melhor comparsa de roda;
Adeusanada
Ela gosta demais do que desfaz
não abre mão do seu único tédio
do ócio de não saber meu nome
cobre demais a vida de sério.
Ela ainda está noite- e-presa
mas não que largar da sua jaula
sente o cheiro do mundo e o rejeita
destranca sua cela e não fala
Ela gosta muito de miar
de rugir calada pra dentro
e enquanto o canto não cala
abafa esse berro em tormento
Ela sabe muito bem como ser nada
de misturar com esse jeito de ser amada
a aranha que levanta a teia
costura e tatua o veneno, em veia alheia
Ela já é tantas, tamanhas, que não pode ser uma
usar a pupila pra rir
sem fechar o buraco que espuma:
uma ave suja a parir.
Tanto faz agora quem foi
a tal bela do riso breu,
pois corre o rio aceso do soy
que pra já ter siso pereceu.
E enquanto a palavra insiste
meandrando mil-vidas à pique
adeusanada segue a barca em riste
morrendo à vela, a vida em palpite.
Eu sempre detestei blog, principalmente por achar que eu não tivesse nada a dizer, e talvez eu não tenha mesmo algo que seja tão humano, esse negócio tão depressa quanto eles gostam, nem tão certo , como eles querem se parecer. Eu sou o Supper-egg, o ovo do nonsense do não-senso. Mas parece aqui ser a única maneira de gastar o tédio sem enlouquecer alguém ou a mim mesmo. mas, como disso disse o Caubói: lasque-se.
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