15 de abr. de 2012


Eu  ainda tenho cabelos brancos na palma da mão:

seca, porque não quis mais fechar e abrir desde o dia que os ganhei...
no rastro que deixou-
e desse dia fiquei admirando aquele rico nasco teu
petecando em frente ao sol para fazer reflexo carente de raiva à estrela nova.
Pegava os que o ódio do vento fazia sumir e recolhia à horda 
e se eles se misturavam com terra
grama de ouro, ou qualquer outra sem-importância, eu me lascava como pedra
para separar todos aqueles poucos fios de volta,
sujos.
-Na lava de uma pista-
E na hora de dormir punha a mão
fechada sempre pro lado esquerdo, e deitava,
e toda vez que adormecia o braço
eu acordava e ficava à sua espera,
como pelos vasos cinzas da lateral do muro,que invadisse ali mecha inteira,
e cinco, seis por noite, de se esperar ele ficar sensível de novo
e ficar com o tato pronto
pra deixar esse mundo sentindo tonto
o malho fino do cabelo da nuca, tingido.
Permaneci por novecentos anos sem encostar as mãos no meu próprio corpo-
ele já se parece menor e mais torto do que aquele que correu para encontrar motivos de não se livrar da dor,
de ir arrancando outros pelos
pelo nu do mundo,
e não conseguir mais me soltar.
Eles ficaram vivos
e todos os dias querem partir para a terra, pro pântano em lodo que era,
e eu os retenho, os dela
como quem comprou a lembrança, o direito único de ser tristemente riste
e até mesmo alugo, à pulso, uma balança
para assegurar o quanto perco dela em gramas
nas contas dos que se atrofiam
as lágrimas,
à riqueza dos meus dedos imundos
mais 502 de avareza roída.

Sobre o Autor

Arquivo do blog