20 de nov. de 2011

Preguiça da Obrigação, Obrigação da preguiça


                    Preguiça


Minha biblioteca está rica em livros que não leio
não os leio, não porque não haja tempo
e sim por preguiça, fadiga, enjoo e tédio
das páginas que me sabem sempre iguais
cheias das letras, dos versos, ciência, retórica vazia
com as traças que as fazem de almoço
e cupins que as tomam como importantes, no jantar.


Capas coloridas,que não me fazem proa ao mar
 bordadas, ornamentadas
em sépia, papel ou papelão
tudo sempre muito semelhante;
uma só coisa quando na parede recostadas.
Umidade, bolôr, a aspereza do terreno
tornam meus brincos retângulos em terços de cristão
daqueles que se tiram do armário
em horas de tristeza ou de natal,
como nas novenas tediosas curtidos,
pegos, apreciados no sofrimento santo
saindo das mãos das velhas beatas
em direção à parede, a aguardar o mogno silêncio.


Tento inverter a ordem, subverter o modo
encosto na estante, apreciada, e finjo ser noite de natal.
E como o terço de madeira velha
abro a noturna sessão das orações à luz das velas
E me vou rezando, rezando, contra todas as vontades
às piores causas centenárias
desterrando traças, expulsando cupins,
e como missa de domingo
saio antes do final,
deixando a prece pra uma outra hora qualquer.

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