Preguiça
Minha biblioteca está
rica em livros que não leio
não os leio, não
porque não haja tempo
e sim por preguiça,
fadiga, enjoo e tédio
das páginas que me
sabem sempre iguais
cheias das letras, dos
versos, ciência, retórica vazia
com as traças que as
fazem de almoço
e cupins que as tomam
como importantes, no jantar.
Capas coloridas,que não me fazem proa ao mar
bordadas, ornamentadas
em sépia, papel ou
papelão
tudo sempre muito
semelhante;
uma só coisa quando na
parede recostadas.
Umidade, bolôr, a
aspereza do terreno
tornam meus brincos retângulos em terços de cristão
daqueles que se tiram
do armário
em horas de tristeza ou
de natal,
como nas novenas
tediosas curtidos,
pegos, apreciados no
sofrimento santo
saindo das mãos das
velhas beatas
em direção à parede,
a aguardar o mogno silêncio.
Tento inverter a ordem,
subverter o modo
encosto na estante,
apreciada, e finjo ser noite de natal.
E como o terço de
madeira velha
abro a noturna sessão
das orações à luz das velas
E me vou rezando,
rezando, contra todas as vontades
às piores causas
centenárias
desterrando traças,
expulsando cupins,
e como missa de domingo
saio antes do final,
deixando a prece pra
uma outra hora qualquer.