14 de jan. de 2012




Eu estou como- Estocolmo-
rendido
e querendo estar em um xadrez de dama
que me chama;
E eu pretendo
sem nenhum bom senso
rimar erradas do jogo sem par,
me soltar dom avesso
me por em chamas;
Você
voz que
que de tão branca peça
me assalta sem armas;
e eu, que de tão preto
septoso inseto
tão renegado voltando sem rogas, sem roupas pro inferno
que fui calcinado,
e não me sobrou nas mãos mais nada;
a poesia queimou e morreu.
Sonhei moreno e perdido na tampa do tabuleiro morno
com a efusão como de chá do teu cheiro,
que de verdade nem sei e houve ou há: sinestesias.
De pensar e despenar
o indecoroso cerco mudo e incompleto
ao lado Amarantre cauteloso, em-si-mesmado verso,
como se com o silêncio contasse
que precisava ser soviete velho
pra entender um pouco de perto
espioná-la e já saber do tudo;
ter nas mão o tempo, o meu segundo primeiro
e fazer não como um loser em pará-lo
mas ir adiante, ter uma boa desculpa
para que o relógio nunca se feche, que me levasse partida a dentro

Eu exercitei, no mesmo fogo de sempre,
a mesma festa com outras peças do jogo,
as todas que me dão movimentos,
luz quente e gostosa,
até que venha o sono antigo que me dão as retidões das jogadas frias,
ângulos retos,
de tanto repetir,

des-reprisar
o meu cansado sêmen ;
Estou no inverno de novo
mil diabos confessos.
Eu acordo. Estou morto?
Matei a Bretânia inteira, com rainha, cavalo e tudo?
Não. Apenas brincando de vida;
ou penso então que acordo, não se sabe, um vivo-pouco.
Reitero a água tão chata da pia,
pra lavar o meu cadáver,
e pra dar conta do meu rosto,
cheio de defeito
errado demais pra você.
Eu tento me moldar
como terra e pano
fazendo dobras na pele com as mãos
levantando mais o ínfimo fio da sobrancelha direita
afundando o dedo pelas pontas roídas
ao fundo da minha máscara,
me cavando até a metade, onde moram as larvas;
Só metade, só à metade
do isso que não está certo
que não está completo.
Repleto vai
o dia de afoitos dias repentinos,
em que me vou pra uma calçada
de uma arriada procura por tais outras,
meio como sol que insiste no estranho quente que traz;
A gente até consegue, sem esforço, como a luz,
se observa como uma praga urbana as que passam
queimar com brasa aquela anônima
que dobra seu punho em direção ao raio meu,
me seduzindo com seu maço de cigarro esfumaçado aceso,
que só mata,
adia tudo,
e sequer me enlouquece;
É tão simples se eu passo a mão
-que de tão mão já se foi o tato-
em outra rainha branca que testo,
escorregando em slide da coroa à bata toda,
pra ver se extraio também o mesmo cheiro,
pra ver se me desejo:
O cheiro mais velho ainda persiste;
E mesmo que o meu triste focinho sinta outras
sinestésicas-perpétuas-flores,
e as sente, porque sou feral
até melhores,
até maiores que vos, que não são muitas, mas são
até as mais docemente estúpidas,
simples de pisar,
que riem de qualquer adubo,
de todo o absurdo
jogado com qualquer dolo, por cima ou por baixo
e que eu, enfim, encontre no paraíso aquelas
das que se conhece, se usa e se cheira,
as que se mastiga a qualquer hora e se cospe
pela simples graça do barato-alcalóide,
eu continuo surpreso com o teu gosto primeiro
que vai me deixando calmo só de lembrar
e me reabilita dos hang-overs dos passeios amargos.
E eu nem me sei mais
e você nem sabe
o gosto que tem quando eu te mastigo,
porque há paz no silêncio
maldito silêncio.
Sendo a vontade a mesma
e a verdade tão meia
que eu grito pra que me sejas toda
com o “s” final do meu sem-jeito
e eu sem medo me exploda
e implore para que me corroa,
para que me vença. Xeque.
Se falo metáforas,
borboletas-faladas
não é por mentira,
mas é que gosto tanto delas e nelas gravito entorno
assim como meu mundo em sua órbita
e meu corpo em seu todo, contra a inexplicada vontade.
É noite: graças ao dia morto que foi-se;
a non-sense sinestesia appearance reaparece
e de velho,
de novo pela palavra
eu sinto o cheiro tão forte
que consigo pensar nos pulmões
que começar a chiar
a falar calminho
a se esquentar
a se encher do meu verde que me vicia...
Se vai pelo estômago
pelas micoses mentais
pelas varicoceles intestinais
dos epidídimos escrotais
que me tornei,
das marcas que nem existem
mas começam a se estar:
sangue parando pra sentir junto
e te prestar atenção
Glóbulos tântricos com óculos
olhos que te veem tanto
uma legião perdida de pensamentos.
Uma eterna ereção
uma eterna digestão
que o tanto já não me interessa.
Se estou morto?
Agora sim,
muito, misto e duro;
eu estou como me indo bruto
livre como tudo
junto de quem me mata. Adorável inferno.

Sobre o Autor

Arquivo do blog