26 de jan. de 2012

Fauna à Fl0ra



Minhas retinas são aquário
minhas mãos, de escorpião
verde, azul comum, fosforescente espelho;
peixes nadando de todas as cores , meu carnival de coisas.
Eu observo pelo vidro das belezas
e obtenho de graça
toda clareza de palavra que me falta.
Um gato no cio me deixa impressionado, sim,
assim como a água que desafia a ladeira e menos corre, incoerente e forte;
temos pensado muito na vida
eu e o covil inteiro de gentes que mora nos pulmões quando amargo eu suspiro,
e não me desespero por falta de espaço, só por elas e por ti que não te gritam,
que não grito, que não se juntam.
Uma cambacica pousa bem perto
e me comove também, como os doidos eus que te choraram um dia,
por um medíocre encanto piado.
Sabonete tentando ser arte no palco da pia,
poesia lisa, que vai te falando devagar o que poderia ter implodido um rim.
Tomamos vinho, eu sozinho mas cheio da sua companhia-
eu ei de ficarmos putos todos e descontarmos, com crueldade nas partes boas
por não fazer mais escala nesse mundo de mim perplexo tão baixo
as tuas asas que fiavam sem custo o descosturado corpo imundo, quase extinto,
a ter visagem da flor.

23 de jan. de 2012
















Falado~semboca~calado~ tão novo~ tão outro ~~tão 
chão~tão cheio~de vácuo~~~~tãosujo~tão perto~~ tão porco no pátio:
eu minto menos, apesar de ser o mais escuro quando escrevo
porque quando eu falo
à luz do rolo de ser
acertado errado
eu procuro derreter 
muito e me sumir no alto
como quem nunca escala visto, à montanha,
com glória bandeira e mastro.

22 de jan. de 2012


Timydês


E mais um dia escancarado principia
recolha-me, por favor, por debaixo da porta
que eu tranco as janelas: é dia de sorrisos.
De um sol irritante que me desafia
me convida pruma felicidade amorfa
de bondade explícita das bem quiistas.
É timydês.
E cada saída, tentativa de ser-me rua
é como se fosse um crime,
olhos vigilantes, corredor da milha verde,
em recuo e cílios.
A cabeça, se a ponho com esboço pra fora
se eu espio
é pra ver se vem alguém
auto-denúncia até para tomar água. O copo fala.
Precavendo futura censura, fazendo o agora
eu me meço na estreita conduta do sério:
Volantes grudados nas mãos do austére antigo sem placa, silencioso;
destino certo
cobiça pelo perfeito
senso reto, engravatado.

E até meus pensamentos eu prendo
jogo com bem dadas vírgulas em tudo:
eu sou a célere et caeteras certa no meio da frase para encurtar o assunto.
Para ficar de uma vez mudo
ser mais prático e menos incômodo
menos agoureiro, sem sorte.
E meus olhos baixos, meus naturais óculos escuros
como faróis de serra
ficam que como a observar a linha do asfalto,
temendo reagir ao balanço das saias,
de desdenhar bem mais do que pernas: corações de ninguéns amais?
Se me veem e me gritam “te odeio!”, e eu ouço justamente o seu contrário
desamarro a raiva própria ao meu trejeito
e me enojo com a própria preguiça que tenho de ser tão violento,
e me acalmo mais...

...Fico longe,
 como o sofrer rugindo na jaula, longe daquela que me leva o couro,
com os pelos todos do meu dorso se indo pelo piso, laranjas.
Caminhar amparado sem as garras
com as minhas muletas de alma
é suportar o pedaço humano que persiste
largando ares maus por toda a vida:
O podre obtuso se abusa de traços
de espasmos convulsos de risos, conveniências do circo.
Ou de conivente arcada,-perversão protetora e amiga-
quase otária,
aleatória e silenciosa.

19 de jan. de 2012

Elis Regina Carvalho Costa.





Poema-Canção à pimentinha


O nó



Oh, nó! Oh, não!
O nosso amor parece mais
enredo de matraca
brado de maritaca
turbina de avião

A gente sofre,
sofre até que passa
no domingo da ressaca
quando tranca o barração

E assim mesmo
o batuque que me sobra
é tormento a toda hora
é sambar só com as mãos

É o nó!
Da nossa dor que marca
o que me ama é o que me empaca
pulsos presos pelas mãos

Parece mais um vento quando aplaca
e entra pelas pares do quintal:

Falam toalhas, e os panos se alevantam
cordas não nos adiantam
pratos, qual prantos, vão ao chão
Oh, nó! Oh, não!

É o nó,
que me entrelaça feito louca,
dupla camisa de força
que desfiar com unhas moucas
só embola esse cordão.
Oh nó! Oh, não!

Se eu me rasgo e o nu me deixa
e mais estico e tu se queixa:

E se o nó, abusado, se ata em outra
faz meu berro como doida
enrolou meu coração.
( E eu me mudo de canção)
Oh, nó! Oh, no!

Desato nem
e o meu bem já me faz falta
chuva,volva logo pressa casa
pra esse meu pátio inundar

Vem pela noite
escorrendo de mansinho
no telhado, agulha e linho
até o meu trovão raiar

De novo a foice
corta a cana e me faz doce
tanto caldo que me trouxe
pro azedume coração-ão!
Outra vez nó! Oh, não!

Aurora escura
com veneno é que se cura,
mãos com mãos, minha cintura
castanho baixo, o nosso vão

O verde se vira em roxo-alvo
E os tão bravos ficam calmos
no disco, a mesma canção
Oh, não!

E para quem tanto brigou
now línguas nossas várias dançam
e a nostra voz tagarelou:

Vestidos amassados andam
cadarços, cordões se arranham
É o nosso nó! Oh, Nó...
Que re-enroscou! 
Oh nó! Oh, não!




14 de jan. de 2012

O caso de He, desaparecido.




He was decided to kill himself
e foi parar num DOC por falta de espaço; Lá não tinha como olhar o relógio
e todas as erratas eram multas nas costas e nas mãos.
Palabras, ex-caças ,
viravam aviões de papel quando xingava o guarda
He was deitado na maca, era o preço,
e caught a cofre do dinheiro pra juntar e pagar sem ver...
As coisas más tinham tinham perdido o apelo e o sentido
tal como as boas que jamais tivera...
Ainda não!
Entreveiro sinal
estrela-luna ruiva!
Passando a linha pelo couro da cordura, costurava,
cruza o vivo, não cruz ao morto-
ele chegava a expelir um negócio parecido com a lembrança de baba,
com a mesma cor da saliva da noiva no grande dia
repelente e imensa;
He was decided de se lembrar de que não interessava mais o porquê de lembrar
e mais do que ninguém se entreter com o vácuo jaz de imaginar o amor...
Era He corado quanto o pouco do povo, cor de jeans tratado,
do tom do olhos cinzas crizais, que tinham nascido cor de água,
castanharam a dor e caíram, ficando negros, até não serem mais, meu deus,
de cor alguma que tenha nome.
Seu corpo cego
aconchego sanfone
se encolhia de noite, por toda a noite
e só quem se achegava mais de perto
podia ver que gemia e tremia, e respirava quente. Como gente.
Bufando entre os cobertores cor de lima
teias de aranha e pulgas expulsando He, ferroadas pelo tempo,
que Nusre Mary mal passava com ódio e pressa,
He fazia o vapor com insone rio de ser gente, de olhos cobertos, finalmente, descamada e só...

He was decided to não ser mais
tão convencido que era maneiro e rico ser doente.
Foi He cozinhando, cosendo e cuspindo pelos cantos dos dias iguais, dos remédios mágicos,
começando a fazer pelos nós nas cobertas, e chegando nos desatados cordões do mundo confuso.
Acalmou a fúria; chegaram a pensar que estava são e alvo-
Contemplou a desgraçada morte dos pareios de He, viu epilepsias da arquibancada.
Se trançava agora de falas desinibidas e raras; se vestia de roupas de gente agora todos os dias.
Se negava a pintar flores,
se entregava a pensar na razão das cores. Há pedras do quintal.


He was decided to BE
maior de decifrar cada uma delas,
mastigando-as, espinhando as bordas da boca,
pra que cada peça desaparecesse no console frio,
que mornava mais que o insular mictório
vasoinho de planta- no sanatório de Agar.
Os moles dentes de He amassar
e os covardes entes a fio de He comer
massageavam as folhas de palmeiras: rúmen, rúmen, pranto, ócio, tempo em uso que não volta...

Muito preocupado em não ser pego pelo fogo da manhã
nem pela Nurse Mary- Inspecionava as Carolinas-Moças dos cachos sempre de noite:
Via cada Rosa, cada forma brincando de ser honesta,
de pó de ser gente, pode ser bicho, coerente e ter filhos
e se filiar ao mundo também antes da morte. Fazer unhas para o isso era viver também.

Começara tinha a conversar bem fundo HE maior, sem motivo,
sobre prisões maiores, causos de fugas, de rapto e de abdução:
no perguntar das horas, respondia no tempo dos vulcões;
quando queria almoçar, fruta à carne da Nurse Mary, que pedia muito,
analisava o menu e falava de taxonomia avulsa;
Leão podia, ser ainda, galo passarinho vermelho domado, comendo cobra quente sorrindo.

Barras de aço
fio elétrico ligado com as pontas nas suas geleias. He precisava voltar.
Cérebro treme
é show de fogos e luz no meio do desperdício.
He was decided to kill all Them quando saísse.
Saiu
ninguém esperava mais nada
He was decided to be uma lágrima que escorregou pra pedra,
que se desmanchou em terra,que virou futuro,
adubo escuro e floriu
ELE agora era, no velho mortuário de Santa Marta,
humor e mãe de flor comprida, erva daninha, matéria viva. Uma vaga livre para um Besouro velho.




Eu estou como- Estocolmo-
rendido
e querendo estar em um xadrez de dama
que me chama;
E eu pretendo
sem nenhum bom senso
rimar erradas do jogo sem par,
me soltar dom avesso
me por em chamas;
Você
voz que
que de tão branca peça
me assalta sem armas;
e eu, que de tão preto
septoso inseto
tão renegado voltando sem rogas, sem roupas pro inferno
que fui calcinado,
e não me sobrou nas mãos mais nada;
a poesia queimou e morreu.
Sonhei moreno e perdido na tampa do tabuleiro morno
com a efusão como de chá do teu cheiro,
que de verdade nem sei e houve ou há: sinestesias.
De pensar e despenar
o indecoroso cerco mudo e incompleto
ao lado Amarantre cauteloso, em-si-mesmado verso,
como se com o silêncio contasse
que precisava ser soviete velho
pra entender um pouco de perto
espioná-la e já saber do tudo;
ter nas mão o tempo, o meu segundo primeiro
e fazer não como um loser em pará-lo
mas ir adiante, ter uma boa desculpa
para que o relógio nunca se feche, que me levasse partida a dentro

Eu exercitei, no mesmo fogo de sempre,
a mesma festa com outras peças do jogo,
as todas que me dão movimentos,
luz quente e gostosa,
até que venha o sono antigo que me dão as retidões das jogadas frias,
ângulos retos,
de tanto repetir,

des-reprisar
o meu cansado sêmen ;
Estou no inverno de novo
mil diabos confessos.
Eu acordo. Estou morto?
Matei a Bretânia inteira, com rainha, cavalo e tudo?
Não. Apenas brincando de vida;
ou penso então que acordo, não se sabe, um vivo-pouco.
Reitero a água tão chata da pia,
pra lavar o meu cadáver,
e pra dar conta do meu rosto,
cheio de defeito
errado demais pra você.
Eu tento me moldar
como terra e pano
fazendo dobras na pele com as mãos
levantando mais o ínfimo fio da sobrancelha direita
afundando o dedo pelas pontas roídas
ao fundo da minha máscara,
me cavando até a metade, onde moram as larvas;
Só metade, só à metade
do isso que não está certo
que não está completo.
Repleto vai
o dia de afoitos dias repentinos,
em que me vou pra uma calçada
de uma arriada procura por tais outras,
meio como sol que insiste no estranho quente que traz;
A gente até consegue, sem esforço, como a luz,
se observa como uma praga urbana as que passam
queimar com brasa aquela anônima
que dobra seu punho em direção ao raio meu,
me seduzindo com seu maço de cigarro esfumaçado aceso,
que só mata,
adia tudo,
e sequer me enlouquece;
É tão simples se eu passo a mão
-que de tão mão já se foi o tato-
em outra rainha branca que testo,
escorregando em slide da coroa à bata toda,
pra ver se extraio também o mesmo cheiro,
pra ver se me desejo:
O cheiro mais velho ainda persiste;
E mesmo que o meu triste focinho sinta outras
sinestésicas-perpétuas-flores,
e as sente, porque sou feral
até melhores,
até maiores que vos, que não são muitas, mas são
até as mais docemente estúpidas,
simples de pisar,
que riem de qualquer adubo,
de todo o absurdo
jogado com qualquer dolo, por cima ou por baixo
e que eu, enfim, encontre no paraíso aquelas
das que se conhece, se usa e se cheira,
as que se mastiga a qualquer hora e se cospe
pela simples graça do barato-alcalóide,
eu continuo surpreso com o teu gosto primeiro
que vai me deixando calmo só de lembrar
e me reabilita dos hang-overs dos passeios amargos.
E eu nem me sei mais
e você nem sabe
o gosto que tem quando eu te mastigo,
porque há paz no silêncio
maldito silêncio.
Sendo a vontade a mesma
e a verdade tão meia
que eu grito pra que me sejas toda
com o “s” final do meu sem-jeito
e eu sem medo me exploda
e implore para que me corroa,
para que me vença. Xeque.
Se falo metáforas,
borboletas-faladas
não é por mentira,
mas é que gosto tanto delas e nelas gravito entorno
assim como meu mundo em sua órbita
e meu corpo em seu todo, contra a inexplicada vontade.
É noite: graças ao dia morto que foi-se;
a non-sense sinestesia appearance reaparece
e de velho,
de novo pela palavra
eu sinto o cheiro tão forte
que consigo pensar nos pulmões
que começar a chiar
a falar calminho
a se esquentar
a se encher do meu verde que me vicia...
Se vai pelo estômago
pelas micoses mentais
pelas varicoceles intestinais
dos epidídimos escrotais
que me tornei,
das marcas que nem existem
mas começam a se estar:
sangue parando pra sentir junto
e te prestar atenção
Glóbulos tântricos com óculos
olhos que te veem tanto
uma legião perdida de pensamentos.
Uma eterna ereção
uma eterna digestão
que o tanto já não me interessa.
Se estou morto?
Agora sim,
muito, misto e duro;
eu estou como me indo bruto
livre como tudo
junto de quem me mata. Adorável inferno.

10 de jan. de 2012




Do alto, Terra alguma é infecta e impura
e chão desenhado com agudo lápis
como se fosse estufa,  não se realiza;
Também não é mais caliente do que os olhos
que já distinguiram um dia
à flor da tara
 desdenhada fronteira nenhuma;
O sagrado, em que um via rio
um via à mar
poeira e norte,
é ponto todo nas retinas dos cegos
como os soltos pregos
a criação e o bode.
Planetapenas.

8 de jan. de 2012


Shankar e eu, Pt I



Shankar e Eu
no poço do desgosto eterno
invertendo martelos
desarqueando pregos
para não subir mais:
porão.
Pendendo eles aços nas claves dos pulsos
como línea de costura em pano-gordura:
vai-vém. Não descubra o misto.
Morda o sempre ausente desejo de ver os olhos.
Moedas em cima do rosto de Shankar, mas não parece.
Não nos parece a mais nada, se é cobre ou couro
água ou lodo. Estou dois em cinco outros cheios lados,
vezes mil
Shankar e eu.
Parte o dia
e a flauta tua
brilha em um outro mundo,
mais longe do fundo
que a palavra mais rasa possa contentar.
Eu e Shankar.

7 de jan. de 2012



Shankar e eu ;  Pt. II





Não existe
poeta sentado
palavra rima
com ponta de pé calçado
Fácil perseguir,
difícil estar do lado
me abandone
se quiser provar algo
porque sou parvo, um belo saco;
mas ao menos que não me seja corrente
contente deu não ter mais por onde
deitar meu beiço decreto.
Fica você da cor dum chiclete
quando eu vandalizo monumentos;
Eu me amo de mais, mas Shankar perverte o senso:
Faz passear as unhas do medo
desgruda comigo um pedaço, um boneco de bronze,
pra farejar comigo o hangar
de se encontrar e maltratar o instante,
ministrar o doente
e brincar de piscar com mãos usadas pratingir a luz do eterno indecente,
Incoerente,
incisivo afeto,
incoerente,
Shankareuera.






Sobre o Autor

Arquivo do blog