22 de jun. de 2012

Homem de palavra



Homem de Palavra
quando foi a última vez em que prometeu não se viciar de novo?
Homem de palavra,
quando é que vai soltar na mesa esse valete e ir-se embora para casa?
Homem... homem de palavra...
quando vai parar de rabiscar passaportes em branco?
E voltar..
já quantas vezes prometeu contar para ela,
àquela
uma história
com meios mais cheios e infestos de começos
e não só de fim
da mão trêmula e vaga
e que sua boca dormisse apenas depois dos olhos dela,
gente à luz do abajour em formato de ventre,
e sob essa luz de um vento grave
solapando calmo e fole... e ninando o mundo com o grave da pouca voz, também
mugindo, de bicho
o sono do anjinho,com beijo líquido na testa,
perto do lençol em forma de bandeira,
homem-de-palavra?
Poderia ir na janela
...a janela que alguém usou para ir embora antes que vissem...
alguém a usou
antes que ouvissem.
Um homem fugiu por ela, outrora
e palavras...
uma palavra... também
a que se vai agora..
A cortina do quartinho se confunde com uma etiqueta de blusa...presa
ele as fecha...
a blusa da menina... branca
a cortina da janela
e a jaula da esquina negra,
e sua boca enorme,
vermelha...
e sabes que não devesse escrever de novo
'assim tantas palavras'
e ficar
permanecer a tanto custo calado, com medo delas,
que vivem em sua casa muda.
Muda...
Homem-de-Palavra!
Acha bonito se encantar com tanto
e se inalar,
e se entupir de novo, contanto
de palavras?
Esse vai ser o seu último gole;
em breve, homem di palavra,
muito em breve estará em sua cela
ainda sem fôlego do risco de não ter concluído sua penúltima promessa...
Homem, que se rendeu ao 'jure'
de nunca mais ficar de ressaca;
mas como jurar cansa demais
todos sabemos,
todos sabemos também
queste copo não é água
e o beiço que o silêncio destrata
é desse ardente prazer em guardá-la...
E revirar dos bolsos os pinos
como um Homem de Palavra
a dizer-te a última, abafada:
amoreína
corageína
palavras em falta.

(e promete parar de querer)

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