25 de mar. de 2012

A Parking Meet Up



A Parking Meet up



Você pode subir pela rua verde mato
em aves, quase sem morrer do coração em buzinar
procura um canto pra encostar o lebre inox do seu carro
mas mais velozes sempre tomam o seu lugar- parecem ter nascido cheirando velas; elas estão para elas-
pode engatar sua segunda-feira e ir na esquina
fazer retorno e piscar com seu perdão
pisa e procura a vaga una no pátio de um beijo dela... liga o tune do rádio, dá mais uma passeada buscando;
ela está para idoso agora, paralítico depois.
Preso aqui, lacrado, farol laranja piscando, o vento não contorna os fios altos, caminhões passando
caos esportivos com dentes brancos; falta de luz, a pesar com o morto trânsito.
Todos indo até ela primeiro, pagando, acelerado, deslizando o espelho dos corpos dos chassis porcos sobre ela, óleo, olho sobre a casca da terra … que é [ella] deitada, casaca aberta;
já se perdeu o gosto do filho, que virou gás natural,água encanada, e o nu mero das placas
Eu tento ser hilário enquanto tiram racha no parking meet up dela
[de]vaga fala meu jeito é em ser nada quando não te encontro
e sai gelada a fumaça:
você não pode me achar e sorrir para me esconder que não há mais vagas?
Desço seco a rua
motoqueiros queridos voando
indo pela calçada, eu já perdi as portas de trás
a avenida quer acelerar agora do medo que tem do tamanho medo que eu perdi,um novo uno, como das portas, desatino de de si.
Eu não quero sequer falar das memórias atropeladas, daquele velho desejo cansado em te cambiar por troco; do flanela que te esfregava pelo pouco e necessário; do homem amarelo e rouco que não era amor e nem casado, com quem você ia ser mensalmente digna, e também matei
ou com a romântica menina de quinze que queria ser contadora de borrões de crematório...
Eu vou chegando ao parking,
já derreti três voyages e um Pampa com vontade de chegar a você, tão delimitada, marcas branquinhas nas bordas do que o piche não queimou, pra onde é de o se estar por dentro e não mais na rua, mar à vista, sem terra, ilha.
Nem mais fiz barulho quando cheguei. O motor só treme por enquanto, eu empurro o destroço de carga sem calças, aos trancos; não tenho mais planos, vou cacho em ladeira, fruta redonda pavor de que dê tudo perto, pernas queimada, água de rádio;
tem outro inox saveiro, novo e baixo no seu espaço
e yo, o quase prata que foi já azul metálico com pneus e único dono, sem mais um trilho, sem governo na direção dos dois, divido o espasmo de querer à força o que não tive, e no meio da cidade me engancho como nave em nossa:
desejo;
homem, máquina, homem -quero enfrentar o sempre que deixo de nunca tentar te invadir e ficar no beiral do sem par, sem ritmo.
Eu venço mais um, apago a saveiro, devolvo ela pro mundo do ferro em uso e do uso inferno e me deito nos limites teus, das brancas marcas.
O asfalto quente cresce nas minhas costas, que vão virando fritas coisas, mas não posso ceder a minha vaga para os que aceleram além;
Estão em fila o Porsche, o Mustangue -e os outros nomes que não sei, não-pobres, que vivem sem o prazer de se desmanchar e reclamar como eu reclamo, devagar- eles querem parar agora [e sempre] sobre a pele cascada dela, mas eu já sou-me lata, fritando, endo absorvido pela vaga, sendo a marca, reservado para mim, perpétua e intransferível- podem agora os nobres acelerar por cima, [e o fizeram!] Que nunca estarão mais em contato com aquela que já tinha sido tão vazia e usada, só agora com o morto que foi carro, manto e calçada, arrasou o mudo empecilho do tempo e pousou como mosca compactada na órbita dela, veio o mundo e desabou: carro branco, Kombi, Mercedez, todos sem acesso a pele quente e infinita da sempre minha, que preencho com corpo, já que a alma sempre me foi do esboço dela, e ela respirou finalmente forte quando enfim cheguei e não me fui. Sou eu, agora, a sua vaga, a que a negra-branca parada tanto buscava.

São Paulo, estacionamento do Joca, 25 de Março de 2012.constituídos pela primeira vez.

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