A Parking Meet
up
Você pode subir
pela rua verde mato
em aves, quase sem
morrer do coração em buzinar
procura um canto pra
encostar o lebre inox do seu carro
mas mais velozes
sempre tomam o seu lugar- parecem ter nascido cheirando velas; elas
estão para elas-
pode engatar sua
segunda-feira e ir na esquina
fazer retorno e
piscar com seu perdão
pisa e procura a
vaga una no pátio de um beijo dela... liga o tune do rádio, dá
mais uma passeada buscando;
ela está para idoso
agora, paralítico depois.
Preso aqui, lacrado,
farol laranja piscando, o vento não contorna os fios altos,
caminhões passando
caos esportivos com
dentes brancos; falta de luz, a pesar com o morto trânsito.
Todos indo até ela
primeiro, pagando, acelerado, deslizando o espelho dos corpos dos
chassis porcos sobre ela, óleo, olho sobre a casca da terra … que
é [ella] deitada, casaca aberta;
já se perdeu o
gosto do filho, que virou gás natural,água encanada, e o nu mero
das placas
Eu tento ser hilário
enquanto tiram racha no parking meet up dela
[de]vaga fala meu
jeito é em ser nada quando não te encontro
e sai gelada a
fumaça:
você não pode me
achar e sorrir para me esconder que não há mais vagas?
Desço seco a rua
motoqueiros queridos
voando
indo pela calçada,
eu já perdi as portas de trás
a avenida quer
acelerar agora do medo que tem do tamanho medo que eu perdi,um novo
uno, como das portas, desatino de de si.
Eu não quero sequer
falar das memórias atropeladas, daquele velho desejo cansado em te
cambiar por troco; do flanela que te esfregava pelo pouco e
necessário; do homem amarelo e rouco que não era amor e nem casado,
com quem você ia ser mensalmente digna, e também matei
ou com a romântica
menina de quinze que queria ser contadora de borrões de
crematório...
Eu vou chegando ao
parking,
já derreti três
voyages e um Pampa com vontade de chegar a você, tão delimitada,
marcas branquinhas nas bordas do que o piche não queimou, pra onde é
de o se estar por dentro e não mais na rua, mar à vista, sem terra,
ilha.
Nem mais fiz barulho
quando cheguei. O motor só treme por enquanto, eu empurro o destroço
de carga sem calças, aos trancos; não tenho mais planos, vou cacho
em ladeira, fruta redonda pavor de
que dê tudo perto, pernas queimada, água de rádio;
tem outro inox
saveiro, novo e baixo no seu espaço
e yo, o quase prata
que foi já azul metálico com pneus e único dono, sem mais um
trilho, sem governo na direção dos dois, divido o espasmo de querer
à força o que não tive, e no meio da cidade me engancho como nave
em nossa:
desejo;
homem,
máquina, homem -quero enfrentar o sempre que deixo de nunca tentar
te invadir e ficar no beiral do sem par, sem ritmo.
Eu venço mais um,
apago a saveiro, devolvo ela pro mundo do ferro em uso e do uso
inferno e me deito nos limites teus, das brancas marcas.
O asfalto quente
cresce nas minhas costas, que vão virando fritas coisas, mas não
posso ceder a minha vaga para os que aceleram além;
Estão em fila o
Porsche, o Mustangue -e os outros nomes que não sei, não-pobres,
que vivem sem o prazer de se desmanchar e reclamar como eu reclamo,
devagar- eles querem parar agora [e sempre] sobre a pele cascada
dela, mas eu já sou-me lata, fritando, endo absorvido pela vaga,
sendo a marca, reservado para mim, perpétua e intransferível- podem
agora os nobres acelerar por cima, [e o fizeram!] Que nunca estarão
mais em contato com aquela que já tinha sido tão vazia e usada, só
agora com o morto que foi carro, manto e calçada, arrasou o mudo
empecilho do tempo e pousou como mosca compactada na órbita dela,
veio o mundo e desabou: carro branco, Kombi, Mercedez, todos sem
acesso a pele quente e infinita da sempre minha, que preencho com
corpo, já que a alma sempre me foi do esboço dela, e ela respirou
finalmente forte quando enfim cheguei e não me fui. Sou eu, agora, a
sua vaga, a que a negra-branca parada tanto buscava.
São Paulo,
estacionamento do Joca, 25 de Março de 2012.constituídos pela
primeira vez.