Manual da Canção
do mandamento do Não
Nunca não negar a
quem não te quer
e jamais permitir
que um sim se troque e enforque,
vestido de louça
só pra sentir a náusea de um talvez que surja;
prum abraço aberto
prum riso cantado,
as armadilhas dos
beijos mandados
àquela distância
a q u e l a d
i s t â n c i a …
Sentar-se à porta
feito um cão
e não vencer a
fome, o desejo
será castigo
como perpétuo e
mortal deverá ser
todo obtuso cheiro,
toda a audácia,
qualquer maldito
beijo.
A poesia, quando
lida por quem não sabe,
em silêncio
(por quem se perdeu
sem ter se ido embora)
não conterá
poema,
será apenas
sequência
manipulada com
calma no vento frio.
Tocando os altivos cansados das recusas,
das reclamações,
não será
permitido que os deuses possuam
qualquer fadiga em
seus ouvidos;
cada homem será o
seu próprio senhor, o seu próprio abismo,
qual pra puxar as
cortinas comigo
ser tão barato
a ponto que um
despejo de socorro se estique por todo o resto,
para que venhas
logo no malfindo deste murro
que é nos ossos a
dor maior
de estar em isso
tudo,
como enxergamos, e nos cegamos a ermo
como enxergamos, e nos cegamos a ermo
o equívoco pôr de
taças do bom juízo,
perto no chão da nossa
fala.