11 de dez. de 2011

Baía dos Porcos

Baía do Porcos





Bom dia, dada à luz que pare e traz
atrás da minha porta o dia novo
que já não brilha tanto más, de acostume comigo
de reflexo e sem birra
eu finjo que não ligo pro que vejo,
não importa, se é sempre amor.
O meu cachorro que busca
brinca no chaco tápria com as patas do dono
rabiscou com a boca o meu tapete,
levando-me o jornal,
separou de mim as notas tão curtas do mundo



A mocinha comendo sorvete
toda antiga na rua
babando-se toda, maquiagem malfeita.
O cego esmolado na calçada
com seus chicotes morais, castigando-o
vai balançando a caneca
tentando me fisgar pro seu lado,
não importa, se é sempre amor...
Se é sempre amor,
ainda que haja tantos gestos, eu me doo por dizer,
saco um cheque piedoso, pago-o,
danço em tele-apatia com eles
de todos os sabores, flocos de alegria
bem no meio da massa-
e sem saber seu nome, chamo-a, devoro, me derreto também.



Se cada dama
que muito fica admirada ca' minha feiura
e com meu passo carcovado
e abre bem os olhos, espantada,
eu me socorro de um asco mais torto
que o beijo que o queixo me dera,
de ser outro que rima e come todas
zombar do espelho, do gosto de fera.
Ninguém se porta. É sempre amor?



Os maus-tratos do sol quente do dia-meio
que me deixa suado, que me atrasa
ou se garoa, que enche meu terno de gotas
rastreadoras de vontades pôrcas
eu me dou um jeito e seco à frio
porque não importa se é mesmo amor.



O casalzinho amassado rente ao muro
com panfletos novos da verdade do sossego mútuo,
cheios das promessas que escorrem dos sussurros
alianza, casa, ouro, futuros dignos,
planos de quinze minutos,
e o papel se desloca da cola,
virando casais moles também, sem ideias...
E não mais importa, se é sempre amor.



Entro e saio do teatro como quem se molhou na poeira; não vejo peça.
Os gringos riem do meu sotaque;
eles montaram na terra que foi minha
e passaram a dizer como eu, com toda a asneira que vivia nela,
mas quem se importa , se é somente amor?



E daí te  r'encontro
nem fundo D'Água,
Baía do mundo,
e tudo se atrapalha
e tudo ahora me importa, sem navios, por demais, sim.
E ninguém me ensinou a sofrer tanto
em tão pouco tempo-segundo, girando.
Ventiladores
Rodas de bicicleta,
tudo novamente...
Quem se importa, se não é mesmo o mesmo tal do sei-me amor?

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