Vega
versus Betelgeuse Parte I
Não é grande coisa
estarmos no bolo mesmo
tão asno e tolo ermo
e ainda não formarmos
céu.
Não chore
desse vazio prato que é
nosso mundo;
quando queimarmos os
óleos
será a sede convulsa
da nossa idade:
abasteça novamente e
vede,
sem molde
e apenas desça
permita que a luz
entregue ao oco frio...
nossa vontade densa e
distante em cascata
-E o teu ofício, Vega,
seja cintilar brava e amante
tão perto da nudez do
incesto
um projeto de angústia
e marca
tão fina que se
estivesse perto do obscuro preto olho
com chuva e lágrima
teu raio nos
condensaria, vácuo cegueira máxima
Caso haja roubo,
e o desvio de tempo
descuide o tudo-sabe que nos vigia
e possa eu flutuar
silenciosa
no sertão da esfera
vai ser o de esperar
que venha a mim, mínima e louca, escondida Vega...
-E tu, com esse
vermelho que a veia mais espessa poderia conter, Betel,
a conduzir como um
cetro, de todo alarde, à via láctea cheia de vinho
como o propagar de um
som remido que vence qualquer lei e vai, espaço a fora
luna inteira
dizer a mim quem me
soturna descobre
a costura doce à dor o
nome rente a carne
Tu, Betelgeuse
que eu chamo assim por
estar-me longe
cordel de instancias
tira da manga a voz
tirana
e afina ela em dulce
fruta
como que ressentida luz
de praiana mata
cujo espectro eu
espreito no vale
pra beber de fonte nada
austéra
o espírito encantado,
encarnado de longe.
Me leva!
que eu não posso estar
mais certa do erro finado,
que me amarga saber que
a noite cansa
e que minha pressa em
sua ânsia me procura a náusea.
O cadeado do nosso brio
asqueroso
que vendo e alugo a
qualquer cometa que passe, e me torne opaca, trinca-se todo
que eu de cabelos
loiros,
e depois curtos
e depois anã-branca,
anã marrom, no
fantasmagórico mel
e finalmente cometa
também
faça com que se
cometa...
"cometamos!":
e me chegue perto de ti
assim, como nó na esteira
deitada e imprecisa
oculta no crime,
qual quando também se
deite sinta
imitando gente
matéria clamando, una
se acenda
noda no sabor da
miséria
misera cor
branca e vermelha toda
…
E então, antes que o plano
pudesse vingar, no abraço improvável dos astros que desafiavam
o tudo-firme, veio o branco e
o vermelho do Sol, importante, e apagou toda a brincadeira.
Se foram amantes, não nos
permitiu nunca concluir a estúpida luz do dia, que nos ofuscou também, e nos pôs, pelo seu nascer cômico e retrógrado, distantes do prazer de um céu
mudo. Vinagre emprestado a lábios de vinho, na luz da lamparina enorme do não saber.
Acre dia.
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