16 de jul. de 2012

Vega versus Betelgeuse Parte I


Vega versus Betelgeuse Parte I




Não é grande coisa

estarmos no bolo mesmo

tão asno e tolo ermo

e ainda não formarmos céu.

Não chore

desse vazio prato que é nosso mundo;

quando queimarmos os óleos

será a sede convulsa da nossa idade:

abasteça novamente e vede,

sem molde

e apenas desça

permita que a luz entregue ao oco frio...

nossa vontade densa e distante em cascata



-E o teu ofício, Vega, seja cintilar brava e amante

tão perto da nudez do incesto

um projeto de angústia e marca

tão fina que se estivesse perto do obscuro preto olho

com chuva e lágrima

teu raio nos condensaria, vácuo cegueira máxima

Caso haja roubo,

e o desvio de tempo descuide o tudo-sabe que nos vigia

e possa eu flutuar silenciosa

no sertão da esfera

vai ser o de esperar que venha a mim, mínima e louca, escondida Vega...




-E tu, com esse vermelho que a veia mais espessa poderia conter, Betel,

a conduzir como um cetro, de todo alarde, à via láctea cheia de vinho

como o propagar de um som remido que vence qualquer lei e vai, espaço a fora

luna inteira

dizer a mim quem me soturna descobre

a costura doce à dor o nome rente a carne

Tu, Betelgeuse

que eu chamo assim por estar-me longe

cordel de instancias

tira da manga a voz tirana

e afina ela em dulce fruta

como que ressentida luz de praiana mata

cujo espectro eu espreito no vale

pra beber de fonte nada austéra

o espírito encantado, encarnado de longe.

Me leva!

que eu não posso estar mais certa do erro finado,

que me amarga saber que a noite cansa

e que minha pressa em sua ânsia me procura a náusea.

O cadeado do nosso brio asqueroso

que vendo e alugo a qualquer cometa que passe, e me torne opaca, trinca-se todo

que eu de cabelos loiros,

e depois curtos

e depois anã-branca,

anã marrom, no fantasmagórico mel

e finalmente cometa também

faça com que se cometa...

"cometamos!":

e me chegue perto de ti assim, como nó na esteira

deitada e imprecisa

oculta no crime,

qual quando também se deite sinta

imitando gente

matéria clamando, una se acenda

noda no sabor da miséria

misera cor

branca e vermelha toda …


E então, antes que o plano pudesse vingar, no abraço improvável dos astros que desafiavam
o tudo-firme, veio o branco e o vermelho do Sol, importante, e apagou toda a brincadeira.

Se foram amantes, não nos permitiu nunca concluir a estúpida luz do dia, que nos ofuscou também, e nos pôs, pelo seu nascer cômico e retrógrado, distantes do prazer de um céu mudo. Vinagre emprestado a lábios de vinho, na luz da lamparina enorme do não saber. Acre dia.












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