Lontra
Estou fóbico demais aos delírios. Sem muito café, sem muito agito
inútil, sem tanto balançar de braços, sem pernas nessa de querer
brincar de cabelos no vento, sem tronco tremulo e vendido.Calma. Até
desativei meus corretores ortográficos, para tal estado de
calamidade de consciência que tento não exigir de mim agora não
reapareça e coma tudo. Folga. E folga das folgas. Informações mal
completadas, itens complexos de tanto serem simples, enchedores de paciência se vão, e eu acredito dever aproveitar desta onda. Temos
de aproveitar o tempo enquanto este é pleno para nos enganar com a
sopa do perpétuo, da procrastinação, da sensação de que haverá
o tempo pelo tempo e só; relógio infinito pra tudo. E a passagem do
tempo pode ser crua e excessiva, mas também alívio para as tensões
do presente: se pode esticar ele até o futuro e se ver, no pouco que
há hoje de si, uma coisa feita e grande para vir a ser. E, no
passado, construir e deformar as casas vergonhosas e modestas do que
o ego relembra e mói no que é chamado arbitrariamente de “memória”
e erguer palácios, igrejas enormes, salões de ouro onde nunca
houvera salão nenhum; fazer plágios de poesias a serem escritas;
refazer poesias nunca feitas e chamar elas de propriedades, fundas e
ricas; recriar princípios morais dos quais nunca fui advogado em
quaisquer instantes dessa longa linha de fatos, retroagir dívidas e
enganos, transpor as culpas em sacrifícios legítimos... Dizer a
palavra sempre, em vez de talvez.
Tempo é petróleo.
Acaba.
Mas e daí, se fingirmos o contrário para usufruir seu maior calor
?
Calma.
Tempo é óleo bruto
quando se acha que acabou tudo, encontra-se mais. Esperança.Pode ser
a última jarra,
mas é de se jogar; vir de encontro aos tempos demais.
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