Existe
um conflito secreto, certo, entre o papel e o pensamento. Tento
deixar tudo correto entre a gente, escrevendo, tentando mais. O
papel, apesar de tudo, é o corpo todo tatuado: quanto mais se tatua,
mais é corpo, espaço pronominal desocupado, ponto de chuva. .
Quarto é quadridimensional, corpo também; tatoos são simples ,
cobrem, e só doem uma vez na vida – sentimento covarde de ter como
prêmio um desenho heroico que te despe enquanto visto, e te encobre
quando desvendado, justo quando queres notar-se em alguma galeria de
undergrounds – Corpo se enche d'água com choro, e mais água, mais
se traga se se afoga. Incha, contorce e roxeia – tem coxas que
pixealizam e curvam sem dó, se embaralham com o tempo – tatuagem
de marinheiro desbota … tem de ser refeita e dói mais a marca,
marcar-se outra vez – Enquanto se vai tudo isso, todo esse gasto
de desenho e escrita, corpo apenas faz design consigo, abastecido do
gás infinito da petrolífera da gravidade … Às vezes, nem isso,
flutua em tempestade, ventos e pedras, e então se machuca; e venta
também para ferir a corpos outros, parceira de almas dessemelhantes,
como numa disputa de balões coloridos de grosso e carne … Tenta-se
trocar toda essa tinta cor de amor e zelo; se sorri; se acena, se
erra absurdos, inverte-se e faz-se, sob os mesmos vícios –
cocaína, celular e shopping center – sexo, correta e
indeterminadamente.
És
honesto dando o corpo só enquanto se está bobo, que para bobeira se
faz beijo e coito, e depois disso apenas paz, cisne branco em noite
de lua, sendo que não exista cisne, e haja um corpo num apê
minúsculo, na ponta do precipício, é a sina tensa, e é urgente
uma caneta. Dia nublado, e a marca sideral de um grafiteiro iniciante
no pernoite das artes, lembra vinte anos ao corpo passado de que é
cuidado e rápido dar nomes novos aos mesmo livros, plano que a a
tattoo do marinheiro esteve esticada, intacta – e incapaz.
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