8 de mar. de 2013

Nave Rigorosa

Quando meu inglês era assim. E era bom... ( Link para : Charlie Brown jr. playin' Killin' the name, Rage Against the Machine cover)

Sinto que preciso comentar algumas coisas sobre onde diabos estavam as pessoas que supostamente amavam Alexandre, o magno, primeiro homem a receber as tábuas divinas do skate no Brasil, quando ainda isso não era coisa de gente sã. Na adolescência, tive oportunidade de vê-lo em ação plena, no palco e, como bom questionador que sempre fui, podia imaginar a dor que pode ser não ser visto como humano, como amável por alguém, ainda que despertasse no povo cócegas e alguns orgasmos mínimos, vindos de alguma crença no caráter sobrenatural das relações.

A mim, soava como porta de saída para as boas e canalhas veias da minha personalidade, que se batizou de Shankar, era o tipo de som descompromissado com tudo, absolutamente tudo, coisa de jovenzinho... 

Mas, voltando a essa história de ser visto como um objeto dançante num palco, e nunca como um homem, que por vezes chora escondido e se faz de vítima, acredito que entendo perfeitamente a loucura que toma quem bebe do cálice sagrado do show bizz. O agravo, porém é que vivemos essa chaga todos os dias, nas relações. Creio que muitos me veem e me viram como mero objeto de um show, sem a menor preocupação com o que eu sinto ou penso.

Uma residente em psiquiatria do Hospital Universitário desta cidade uma vez me disse que eu era do contra, e ia ali só para fazer birra (esse "fazer birra" é por minha conta), e que tínhamos "objetivos diferentes". Ainda bem que ela já se foi da minha vida, foi apenas mais um show, de muitos, de descrença que depositam na minha humanidade.... Vamos para a próxima faixa...

E ninguém sabe o que acontece... é realmente impressionante. Perdi meu maior amigo nos últimos anos por conta de um suicídio. A família, aparentemente, o pressionava em muitos aspectos, ele se sentia fora do real. Não consegui salvá-lo. Talvez eu, tão prepotente senhor dos sentidos, não tenha o visto com a humanidade  que necessitava para sair daquela maresia mortal. Eu não vi...

(Chorus)

...e, além de tudo, tive de conviver com esse peso da morte jovem por meio das próprias mãos, num país careta, religioso e brutalmente educado com chibata e canhão, por séculos. Falamos Português, e só isso, e às vezes nem isso, em especial quando o assunto é morte ou suicídio. O sofrimento aqui é proibido.

Estamos em guerra sempre. E a minha é para provar que sou gente, e que não penso só em guerra. Olha que contradição! Muita gente vive dizendo besteirinhas ao meu respeito. Por conta disso, tenho muitos ex-amigos, que pensei que eram pessoas que me compreenderiam "em back stage", que entenderiam como eu era capaz de me sentir triste, como todo humano, que precisa de uma coisa chamada abraço, ser seguro e não ser solto mais, saca? mas muita gente só quer dessa vida o palco.

(Carteado e algumas manobrinhas) 

Uma vez, fui chamado de psicopata por um colega de serviço. tinha dezessete anos na época. O soldo bancava o cursinho, que me bancaria para o palco em que estou hoje. O que eu tinha que fazer? dizer que a companhia de Internet era boa e conversar o povo a não cancelar o serviço...Mais um palco, em que eu mandava muito bem. O tal colega só freou a "brincadeira" quando ameacei ele (de brincadeira) no banheiro da firma. O curioso é que tive de dar a ele o que ele pedia para que assim parasse...

E o mais bizarro é que ele, no fundo, me via como um pisco. Isso foi o mais impressionante... mais um palco.


(Nadando com os Tubarões)

Boiando nessa piscina de tédio, comecei a conhecer a dor de maneira mais viva. Aquela dor do operador metroviário no final da tarde, rezando para que ninguém caia da plataforma lotada na Sé, a verdadeira central do Brasil... nesse caso ele, operador de trem, é o espectador. E tem dias que a obra é a mesma. Não vê mais humanos, só um tapete...Isso é bastante cruel, porque só vai se lembrar do que é humano quando aquele otário de sempre escorregar na frente da composição. Na verdade até parece o mesmo, que ressuscita só pra banhar a memória da máquina com coisa vermelha e sã, mas, de alguma forma, colabora...

Mas, quando te pressionam tanto, e não há  como (nem porque) fugir, você tem a opção de escolher uma distorção no seu Wah-Wah e brincar com a estupidez dos que te acham uma estrela, dos que só te querem para a festa, para o sexo, para o melhor; e AI de ti se fizer cara feia...


Você dá o seu show, e então aparece uma fã. Ela não sabe o quanto você suou e tomou cuspe na cara, quando tava no underground, nem que você sofre o diabo por dentro, e como ela sofre para pagar contas e não ter nada em troca.

E então você tá numa semana terrível, cheio de substancia ruim no couro, chorando por dentro, mal conseguindo levantar-se. recusa a PORRA DO PRESENTE. (texto piorando em nível). Por que? PORQUE VOCÊ NÃO ESTÁ LEGAL. Não quer aparecer na foto todo caído.

E a tal fã, depois de você ter saído pela porta dos fundos do aeroporto, reclama na rede social:

da próxima vez, se alguém quiser te entregar algo, aceite. como for. vc nao sabe o que essa pessoa fez pra conseguir esse "algo". vc nao sabe quanto tempo a pessoa perdeu pra conseguir esse "algo". veja os dois lados.

qq desconforto a ser gerado em vc, vai passar. o que nao pode passar é a ideia de que: nao, nunca mais negue a possibilidade de alguem te dar algo.


Não, não vai passar. Ser IGnorado como ser humano, como você fosse apenas um Orixá pra quem se deixa uma oferenda é doloroso. As pessoas só me magoam uma vez, e só uma. Eu estava doente naquela semana, fã anônima, e não queria sua companhia; queira a de qualquer um que me dissesse qualquer coisa simplória. Sim, é um dramalhão. O fã não reconhece esforço no trampo do artista.

Na cabecinha da fã, só ela é humana. Mal passava na cabeça dela que naquela semana pude crer que morreria, devido a minha saúde. Mas, para gente assim, somos só objetos de consumo, imortais, imorais e prósperos sempre. Você os dá a arte, mas quando quer ser tratado como gente, cospem em você, e você volta para o seu quarto, humano e aflito, como gente amarga e não entendida.


(Quebra-mar)

O curioso é que, produzir mais arte, ser diferente, intenso, repele a humanidade e o amor que você gostaria de ter por parte de seus admiradores. E a solidão  parece ser só a chave. Você tenta procurar a porta, mas o sentido de tudo, mesmo deste texto simples e odioso, se perde.

 Querem o disco punk de Shankar, sempre quiseram. E, portanto a vontade sempre foi feita. Mas nunca recebi de volta o que proporcionei aos outros. E não é de injustiça de que falo, já que injustiça maior seria não ter recurso intelectual para escrever isso, essa coisa "dark e de guerra", não é fã-farrona anônima?

(Do surf)

E há aquela hora de esfriar o sangue, ficar na brisa quando não se tem tesão pelo seu trabalho acústico e conceitual, mas só pela furadeira em forma de guitarra. É triste. O artista comido pela própria arte. Pode usufruir dos pulos e sentir o cheiro de suor num festival, mas nunca saberá o nome daquela menina, daquele menino, que depois de boas doses de ecstasy ou pinga, retornam para casa para amar o Rigor do cinta, dos desenhos perfeitos cabelo curto... trajes militares, saudade, cinema, começão de doces e cacas, casamento, escritura. E a arte vai lentamente para o museu, para o cemitério, ou para o delírio absurdo... o artista virou caricatura do que ele mesmo encomendou, largado numa jaula....

Peraí! Esse texto é sobre a morte do Chorão, ou sobre mim, afinal?

É uma mistura, perigosa, das duas coisas; sobre inveja e abandono, que só um fato magnânimo externo, e uma reflexão interna são capazes de fazer com que comparemos o nosso descaso diário numa vibe absurda. Mas, perdão, é o jeito dark do artista. Talvez esteja quente e seja sol demais para quebrar a casa. . Só Uma boa viagem basta.


 (E meu inglês não lá essas coisas, ainda.)










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