Ontem
Ontem melhora, disseram
E eu já tirei o Napalm do meu corpo
[. Ontem melhora
Te prometeram
Um homem mais sensível
Um nome limpo
E uma estrela só tua
Ontem melhora
Fala o anúncio mais único e menos morrido em lux]
Ontem as cabeças, ontem os pratos
Ontem o enrosco, ontem a hortelã na minha carta
Ontem melhora, disseram!
Ontem as cidades divinas, ontem todo o conselho que te dei
Ontem um peixe desconhecido, ontem aquele homem enforcado
das fotografias
Ontem a seca, ontem o ciúme
Ontem a tristeza, ontem o crime de se estar triste
Ontem agrados máximos, ontem as grades
Ontem melhora, disseram.
Ontem um riso do dia, ontem uma nuvem troça no céu
Ontem cortinas, ontem o homem do ódio aberto
Ontem uma dor, ontem um charlatão que engana a dor
Ontem a morena do dente de ouro, ontem o dinheiro por pouco
Ontem a fila grande, ontem a Ilha Grande.
Ontem a pisada de engenho, ontem as picaretas dos
engenheiros
Ontem o doce de caju, ontem os doces de outrora do fim.
Ontem cento e onze, ontem não se sabe quem nem onde.
Ontem o lombo, ontem a carne assada
Anteontem aos ossos, às borrachadas
Ontem melhora, calma.
Ontem aquela parada para um abraço, Ontem um homem aceso no
ponto de ônibus
Ontem pois somos todos Proálcool, Ontem melhora, meu índio,
lhe disseram
Ontem o lírio antes do broto, ontem o chorar o leite dentro
da vaca
Ontem o pobre branco, ontem a promessa armada
Ontem as marcas, ontem às marcas!
Ontem dia de Santo Antônio, ontem dia de mais ninguém
Ontem a parede riscada de giz de cera, ontem a lembrança do
hoje
Ontem Lampião, ontem os fireworks na praia de Copa.
Ontem melhora, você já sabe
Ontem é o do que se queria, E ontem é o do que não se tem
Ontem o botão sem fardas, ontem sem ser terno
Ontem a chuva quente, ontem a sua aposentadoria
Ontem os projetos de labuta, ontem a democracia
Ontem melhora, disseram ...
Ontem o monotrilho, ontem a monogamia.
Ontem as suas mãos sobre mim, ontem o alívio
Ontem melhora, disseram.
Juliano Salustiano