22 de set. de 2018

A ONDA

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A onda

A onda do Capitão bateu à porta
Da nau quebradiça, parva e louca
Pelos medíocres de cobiça solta
Cujas vozes sós, de longe a açoita [m]

Mas por qual bandeira, Deus, digam quis
Vós ao presentear com pompa e com cor
Marujos e capitão infeliz
Com línguas quentes, balas e terror?

Os pretos, nesse mar, gemem num vão
Esquecidos, desparidos e sem leme
Enquanto os amantes temem abraçar o não

(Anseio que a quadrada onda se beije?)

Só que a onda do Capitão à pique
Põe o sonho a seco junto dos ossos
Nunca encontrados, nos porões, dos corpos!






Imagem: A ONDA. Direção: Dennis Gansel. Produção: Christian Becker, Anita Schneider.Alemanha,2008.[

7 de set. de 2018

A Felicidade chata dos míopes




A felicidade chata dos míopes


A felicidade dos míopes é poder ver um pouco melhor, mesmo os objetos aí e apareçam por milagre na frente do rosto tenham mais de exótico do que de didático. e mesmo depois , quando tenham alguma coisa começando pelo tédio , que é basicamente se ver em que todo mundo se vê., sem piedade, tratado igualinho a todos que enxergam a mesma comedia e tragédia todos os dias _ tudo fica normal e é essa melhora fantástica que se da, de se inserir no mundo da fantasia deste real através de uma simples correção , que é a do ver, ouvir e calar para não morrer, ou ainda o do ver e de cobiçar em silencio uma coisa linda que jamais tinha sido notada ... Deixando vazar entre uma gíria e outra uma canção seca de quem por inveja ali não iria estar. É assim ser míope, é saber que poder vir a enxergar tudo vai deixar tudo de uma vez mais confuso e que as lentes. Ah, as lentes são na real os maiores escudos contra o que as vistas incorrigíveis deste mudo têm de mais comum.
É por isso que não querem saber dos exames; é por isso que hesitam quanto as melhores óticas da quebrada, ou até sobre os melhores cirurgiões oculares da cidade.... É aí o preço o de menos. Verdade é que eles não querem ver o que eu vejo, é isso claro por demais. Não têm desejo de fazer parte desta máfia do ver com os olhos fixo, rijos, ignorantes e descontentes como numa estação de metrô. A luz baixa da feira depois da uma hora, a balança corrompida do vendedor , as meninas vendendo os seus corpos de frango novos, os corpos esquecidos no chão depois da escultura de vários projéteis aleatórios ... Nada disso vai interessar a quem no íntimo percebe que o notar de veras mesmo é ver só um tico com um fundo bendito de garrafas é o bastante para tecer com raiva contida a opinião de que Não se quer enxergar ou participar .Ajeita os óculos e segue a marcha feia; caso um absurdo surpreenda de um jeito a atacar o estômago no seu trabalho imperceptível, saca-as também , qual fossem as lentes tudo ,ficando meio zarolho ao meio de toda a luz , essa daí única entidade respeitável dentre as cores e os valores sem valor específico, impostos pela existência. Que se perca mais um ônibus por não saber o letreiro, ou que se passe por blasé numa conferência daqueles conhecidos de sempre, padaria ou calçada. Mas que se ganhe, portanto, vida serena nos intervalos programados do pânico em que insistem ser aquela nos quais o mundo simplesmente explode. Embaçado.


24 de ago. de 2018

Noite com Vlad






Noite com Vlad

Sob o trono de Vlad, couro de bode
Esse existir não seria tão azedo
Na já azarada fé de quem não pode
Tal qual artéria jorra um limo espesso

Açoitou o juízo o ogro sem segredo
Porque ensinou a marchar marcha covarde
Tornando a asnice com célebre alarde 
É esse senhor tal flor a vir do medo?

Frouxo demais para agir a jipe ou tanque
Inútil eu que sou os dentes só rangem
Pros sonhos de Vlad a verter o sangue.

Mas mais amargo que o mal é essa imagem 
Do sujo abismo, um narciso e Brilhante
É ver nela admirado o povo infante.

30 de jul. de 2018

Considerações do partido


Considerações do partido






















- Eu não quero um amor de best-seller
Quero a harmonia gratuita da vida
Só que a vida
Sem a agonia
E o bolso muchiba não há
Se o que sobra é o amor de esmola
Que quem é doido nos dá
Amor faça
Amor faca, amor foice
Amor de amolar
Quase corta caso não fosse
A dependência mole tida pra
Se regenerar
O fígado apoia o absinto, até
Exceto se quedar no sofá
Amor assistindo à tv
Amor de se calar
Logo o útero cresce
Gera a capa e o couro pro osso
Amor de não se esquecer
Amor que há de ser o todo
De colo o amor cresce
Amor de expulsão
Amor de dizer o não
Um caminho líquido se forma
Com letras pra formar a paixão
Pelas ruas de lóbulos sem ramo e louro              
Doces, pipas e Tang por Delicatessens  
Amor de escola primária
Amor de deformar a massa
Colorida e cacheada
Amor de afago no canteiro inacabado
Da escola estadual Dom José de Barros
Amor humilde ou humilhado sem jeito
Rancor de onze sujeitos
Afoitos incitando o beijo
Pulsos progressivos do peito aguentam os qualquer-me-queres
Braços não apertam no meio ela
Lábios soltos e língua de cadela
Amor imitando novela
Sem casar bem os finais
Amor magenta
Folhagem de papel das frutas na feira
Saladas de besteiras 
Amor adolescente
Amor sem boa maneira
Barba rala, fala embolada, farol da Barra
Amor de trem da esperança
Amor de milhões de segundos
Pelas janelas
E tudo se resolve com o sumir das vistas
As sombras mistas na estação central
Amor moral
De consolidação
O direito que tenho de voltar e dormir
Notar o cachorro notável gato a brilhante lua
O que não percebo e nem muda 
Amor da cauda
Amor de erro
Amor de nome de santo
Tanto berçário e saga pelos hospitais
Insone amor de atreva-se e apanhe
Amor de fardo e parto
Amor de às vezes sim,
Amor de vai e faça por mim o que eu não pude ser
Eu que era um pós-punk com Super-ninguém, antes do amor de lapso após quarenta ouço um Henrique e Nicanor eletrônico-amor
Sertanejo de tanta cor
Mais valerá a confiar em quem erra
Amor de quem berra
Não importa a quem roa
Acorda todo o mundo
Amor da terra:
De separação
Se forma um astro no céu
E um documento do advogado
Amor de ex, salgado
Segue Amor à vida como cavaleiro
Caboclo ao corcel
Caneta em surto sem véu
Amor de papel e insulto
Estúpido Amor de adulto
Eu deveria ter sabido desde o início
Stories destes tipos
Amores pelo precipício
Leves de amor não duram
Amores capengas
Amores à venda
Presentes atuais
Borbulhos de Brimstone em trevas
Amor de quem sóbrio não se entrega
Medindo metro de fianças
Amor das novas desconfianças
Amor de burocráticos perimetrais
Amor idoso
Que cai pelo corpo
Reumático
Amor de memória
Qual corrimão pelas escadas 
E a tatuagem dela
Amor tateando em mãos fracas antigas noites perpétuas
Amor de inventário e pérolas
Porquinhos lutando pelo que eu tivera
Amor de netos ao colo
Amor de carcará de amigdalas borradas
E calças
Amor pela Nena que me trouxe
Um chocalho para eu mastigar
Amor de mão a me trocar
Não se sabe como começou se
Nenhuma circunvolução ama e
Não se saberá como acabou se
É assim de Amor e vida o drama
Amor de Rima torta como é toda a flor de galho remota
Que procura o sol e cai
Longe do seu corpo
Amor de incenso e Amor de morto
Cai também meu dorso tinto então
O Amor de cinzas levando a cor
De Amor a todo o Universo.



Juliano Salustiano 

2 de jun. de 2018

Metrópole


Metrópole


Mínima de nove
e máxima de quatro vezes dez
noite em clima e asfalto cru de novo
buzinas atormentadas porque
a miúda cancelou o encontro
ao saber da vinda da tempestade
dentro da cara e das bolsas
dos olhos
seis da noite
no vão do museu
qualquer coisa menos arte
prédios simpáticos
pedras homeopatas
em cabeças psicóticas
Terra explicita a reproduzir sem monumento
de não se deixar ereto
Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos 
Um campo de concentração
a assombrar quase ninguém
 integra à imagem as ex-gentes que estorvam
Carlos Caldeira Filho um pirão
de motos e córregos  
sombreada por serpentezinha de aço sobre as mentes
não é a via Cuatro
escadaria fresca de quem a mantem discreta
Não sairá nos jornais eletrônicos
Mesmo quando chova e caiba refrão
‘Itaim, longe de mim! ’
Debutante margem de Brookfield assombrados
Vales da cheia de vinte e nove
Casa do norte do Pirajuçara O Sabor
um piscinão no antigo campo da Ponte
Trem atômico
o dominante nó de dar nas palavras avoadas
Verso 
Do insano Grajaú
A única Coisa existente.  

18 de abr. de 2018

Verdades-nenhuma


Verdades-nenhuma


A poesia romântica é
Geralmente
Ausente em quem não
Viveu

Nem toda canção dos anos
Setenta é um
Bonito sample
De rap

Mesmo sem o muro o
Leste do mundo
Continua-nos
Um privê incógnito

Ainda que o
Silêncio quebre não
Equivale
Ao quente dum pensamento honesto

Não necessita
Muito otário para crer, sendo
O mundo como um grande
Círculo de bits

Bermudas podem ser
Usadas no escritório
Sem dar curto
À desconfiança

Erguer a cabeça crespa
Avessa ao medo
Na blitzkrieg da rua Joaquim Palhares
Pouco custará: cabeça e liberdade

Todo o vermelho
Rougido ao meu pescoço
Aflito é somente em peste
A obra de um mosquito? 



16 de abr. de 2018

Timidez





Timidez


Eu sei o que falar
Mas isso assustaria
Ao mar, que recuaria antes do torvo
Eu sei o que dizer
Só não sei o que é respirar
Ao receber
Bom dia
Boa tarde
Tu fazes parte
você é linda
São quantas doses?
É pra presente?
É pra você?
Eu sei me vestir
Só me falta saber
o embroidering do
Costurar a boa tira
Sem parecer a nua com
Luz do dia

Pés pesados
Descalços nunca porei à janela
Os dorsos mais vivos de um mundo
São meus de orgulho e vaidade
Até a idade
Pensam que pensam
Dando um nó no tempo
Já pensarei:
E direi não
Com a força de um coelho acuado.


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