12 de out. de 2017

Santinha

Santinha


Santinha fica para lá
Um quarto só para ela
Longe da sala de estar

Ela tem os móveis todos para remover deles a terra
Não há mais ao menos do que chorar daquela guerra
Palestina onde pelo o nada tudo se mata 
E onde o sereno já se perdeu da medida exata

Teve que se vir com o filho de longe
Lá onde o coronel decidiu comer o mundo
Com colher garfou de um tudo, exceto a fome
Que se dividiu à força entre os vagabundos

Santinha fica para lá
Num canto de um bar
Longe da sala de estar

Tenta ler as letras cozidas do caldo da lida
Entre a convalescência do menino e seu ritmo
Em seu contrato reza a bula que será isso para toda vida

Santinha fica para lá da carne
Um prato de moedas só para ela
Ouve à noite os que gemem baixo em prece

Está cansada como a água da tubulação
A pressão jamais chegou ao seu patamar
De sangue vai rígido seu pescoço em aflição
Hora de dor, dor não se diz; hora de amar, só de sonhar.

Tem quem se impressione, de escrever e de ver
Que santinha se tenha às ventas tantos filhos
Apartada em terra do seu mundo e ser
A mãe preta e inerte de tantos maus sobrinhos

Santinha lameia seu corpo com creme
O cheiro dela não chega à sala de estar
O vestido de estrelas é o azul escuro de sempre

Os meninos brincam na sala de estar
A Santinha olha por eles sem se enfiar
Bota pela porta e fresta neles bom olhado
Que irradia da luz no seu uniforme sagrado

Santinha fica ali
No altar 
Um quarto só para ela
Num andor só dela
Barro e pés. E assim seja.



Juliano Salustiano


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