Sem
obstáculos. Sem obstáculos o trovão vai longe; parece perto, carece eterno. Sem
obstáculos o som do caio cai mais certo que um corpo, que caído uma vez, não
termina seu destino. Sem obstáculos os braços apalpam sem mãos de ambição a
crosta da Terra, sem cinismo há flores e se resta, presta. Sem obstáculos não
há elevadores, tudo é todo rastejante e infesto, mundo incerto, tato avante,
sem o de cor e aberto. Sem obstáculos se retira a portaria, o gradil e o
parque-de-brinco, não tem anéis nos bolsos, não tem reuniões infinitas, não
existe estudo sobre a insatisfação. Sem obstáculos, mesmo que pudesse
encontrar, enfrentar outros olhos no hall, um novo a cada dia, gosto de
lágrima, não seriam outras retinas na reluz a ver nádegas polidas, e não seriam
outras a ver de volta olhos a perder a linha, se perdendo então até a maldita
porta, pra calar outra vez o ensaio do que não vai ser concluído, para ser mais
nada com o entulho chamado obstáculo. Sem obstáculos; obstáculo é o entulho com
nome de plaza, piazza, de C.D.H.U, de sobreloja. É república inválida de siglas
erradas, governada pelo paratortido da mágoa. Sem obstáculos o sangue vai
longe, o ar para o bem disperso, e os urros para o infinito. Sem obstáculos o
rosto no vento é filtro singular e nada mais. Dois entes iguais, sem as paredes
da do social, da do de serviço, das garagens seriais, das dos arranhões do
fisco, e no céu no escuro, da do silêncio polímero frio com as forças das penetrações
rápidas e breves; da das discórdias isentas, de recipientes, de vasos de
plantas artificiais, ou de encanamentos. Obstáculos. Sem obstáculos se pode
chorar, vomitar e ter glicose nas atitudes. Sem obstáculos o rito é apenas
abrir o olho, fechar todos os olhos e existir. Tão caro e tão barato que o ato
se paga com os lucros em si mesmo feito, sempre efeito, sem obstáculos. Sem
obstáculos: vive, sem obstáculos mato, mata não retribuída; sem obstáculos voz
levante na lama sem asfalto, indo para o interior domim, sem dormir, interior do país. Sem obstáculos, uma bomba terá
o efeito de um jamais, e uma lambida no beiço e o amor, portanto ecoarão mais
... Ainda mais que o som de todo artefato. Sem obstáculos, um copo de cerveza é
o mar, e o gole seu é a cauda que foge da areia. Sem obstáculos a única ruína é
o corpo e o único limite é Serra-do-mar ou a chapada de se des gastar. Sem
Obstáculos!
Juliano Salustiano