20 de jan. de 2014

Gonzaguinha e eu


 
 
 
Hoje percebi que eu queria ter sido o Gonzaga Jr. (sem risos) O homem era um Chico Buarque Chupado, um cão do avesso de feio, magrelo, duro; por isso me identifico; teve uma fase de amargor musical, em que subia demais o tom ao falar dos dramas deste terceiro mundo (coisa que eu discordo) até ir encontrando, frase a frase, o melhor tema para cada acorde. Não, não sou perito; não escrevo livro de crítica musical; estou de LP em LP, na fase rancor ainda, mas por spoiller, assim dizendo em inglês, sei do que virá e será uma das viradas mais fortes que um compositor brasileiro já apresentou.
 
Mais do que isso, Gonzaga conseguiu produzir uma obra que se destaca francamente da de seu pai;  um, inventor de um ritmo que apresentou o Norte ao Sul do Brasil, buscou na itinerância de seu xote, xaxado e Maracatu no Matulão (como o próprio Lua gostava de dizer) a franqueza e a despretensão de uma quase invasão Bárbara naquele Rio do final dos anos 30 . O outro, criado no fixo morro de São Carlos, lugar onde a solução para tudo é apenas sobreviver ... (e assim é em toda periferia) teve na primeira infância a visão sem heroísmo da opressão; depois disso, o internato para "salvá-lo" da malandragem contribuiu para a formação sem esperanças do jovem Gonzaga: o Mundo talvez fosse todo um grande morro a descer...
 
Para piorar os prováveis sintomas persecutórios do artista, nada como uma perseguição real para demolir esperanças. Se em casa as coisas não eram boas, nas ruas o Golpe de 1964 foi o ponto crítico que definiria Gonzaguinha como artista, pelo menos naquele começo mais "folha seca". As opressões foram um Norte em sua vida, enquanto que para o pai, sempre pareceu que os carácteres duros dessa vida precisassem ser transformados sempre em pulsões e projetos artísticos considerados  positivos pela indústria do disco e do rádio e, portanto, "alienados", aos olhos do filho. Eis a querela ai? 
 
O que dá pra inferir  é que o moleque Gonzaguinha teve o tempo necessário para acertar-se com o pai, e esse acerto parece ter vindo muito mais da necessidade de perceber que as relações mundanas, apesar de representarem o nosso diário açoite, não podem se sobrepor às necessidades de movimento humanas típicas do afeto. Sempre me lembro disso quando ouço a clássica "Vida do Viajante", cuja letra trata desse acúmulo de experiências frente a adversidade, não importando o universo natural e externo. 
 
Outra razão para que eu tenha querido sê-lo, no dia de hoje, é o fato desse compositor ossudo em face e bigodes oferecer sempre perguntas, poucas ou nenhuma resposta. E vida ser a palavra mais aclamada e repetida nas suas canções. E até para ela ofereceu a célebre pergunta: O que é, o que é, meu irmão?
 
 
 
 
 
Juliano Salustiano;

Créditos do vídeo ao canal:
 
 
 
 
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11 de jan. de 2014

Estabilizador


Estabilizador


Estabilizador de humor tirou minha criatividade...
deixa a mente limpa
igual a piso de hospital
sempre a ameaça de alguma sujeira
e por debaixo nada;
cera e sabor nenhum
talvez o que deixa alguma criança amarela,
amarelo cor de ovo
cor de novo
vômito, talvez,
onde eu escorrego;
e se limpa de povo em minutos
vai deslizar um outro carrinho nas minhas ideias
cheias de algodão antisséptico
marmitas para doentes, enxovais …
ao passo onde imagino ser mar, guerra e pranto
aventura e histórias grandes,
é puro solo branco com banco
e espera – o apenas –
nenhuma cerveja,
deserto
e sal.



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Mostra

Mostra




Para ver Stanley, eu me mato
porque só posso ser bom
se me lavar em calor de um dia
e admirá-lo em silêncio
que parece que eu inflo
como sapo boi em qualidades de HAL
e dissecar ele
com eletrônicas artes
certas peças finitas
de só quem não possui o lastro
pode sentir gozada em vazar …
sou rico
só de vê-lo
mas onde irá parar Stanley depois de visto?
O que quer o seu cinema defunto?
Minhas camisetas, bottons ou sintaxe rara?
Eu necessito de óculos para admirar
óculos para ofuscar a mim mesmo
que já bem sou nem alma trovejando
e escura num Pathé,
Na neve tropical
eu não posso ser a massa e
devo repetir a si que gosto desse meu amigo ...
Stanley,
mostra pra mim o caminho de casa
e das específicas explicações boçais para o close in life. Rapidinho.





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Manchete





Manchete


Encontrada mulher mantida livre por mais de trinta anos em São Paulo.


















9 de jan. de 2014


O DISCO




No calor urbano de 38 º C
o homem do gelo experimenta o heroísmo
se muito o desejamos vira insulto:
– Água, água, água!
Se o repetirmos,
se divide em cada farolete da cidade e na maldade dos corações defeituosos
quebrantas de negativas, cheias de horror
não ao entregador de panfletos
E como pode se derreter, e se desejar, a essa de sem nenhum ócio
sem saciar-se em tantos prédios,
pregos,
como quem quisesse o pouso em fresco e o risco
em fodido céu
de um frio – o sol. (?)

– Olha a água, dona. Olha o gelo também...

E perseguem um homem preto de sol. 



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24 de dez. de 2013




O devaneio epilético.



O devaneio é uma palavra batida ,
quando se bateu o convulsivo o nojento o dizer
nada-c0m-nada, cabeça no solo
E ninguém para babar em devaneio mais alto – libertai!
Sambou com o coco no piso do diluvio, gelado azulejo
e todos fugiram
do homem, sem lapso,
nem para indigno, apará-lo,
em devaneio,
Palavra mais baixa. Correm.
Corredores;
Mas como eu tenho nojo
de quem não se devaneia em nada*


*não se debate


Juliano Salustiano


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