2 de out. de 2011

Essa é uma daquelas paradas q dão errado quando não se quer ser espontâneo. Dá aquele cisma que você tem que fazer uma coisa bonitinha e ao mesmo tempo profunda. Meio que você tá no tédio e ao invés de usar a palavra pra sair dele, q nem touro densconfinado a matar pelas vielas de Pamplona, meio que se entrega a ele, se congela. Lendo dá vontade de rasgá-lo, mas me lembro que já pousou feito mosca na minha pele e, graças a deus, não injetou o ovo do verme do preciosismo.Muito pobre.




Hoje me deram uma pedra, marco zero
para lapidar e suar por cima,
fatigar.
E ela,
sem sinal de vida,
minha obrigação e meu trabalho
permanecia desintegrando muda
diante do meu exercício


E ensaiando pupilas grandes
em sacrifício
terminei em dúvida e riso.
Pra elogio
pra bem serviço
qualquer palavra,
não se virava gente
permanecendo ‘isso’.
           Consentimento
A impressão boba de que as pessoas que nos sabem, deliciosas, são, quando não eternas, no mínimo centenárias, nos coloca em atormento sem cura quando de cena elas saem, a contrariar nosso delírio. Encaramos que o perpétuo é, como quase tudo, criação da gente; um tempo inventado pra tentar impor um lençol ao trágico; o engodo à verdade triste; o sorriso falseado, que deve ser dado em grande medida, no maior número de vezes, nas mais inoportunas ocasiões, antes de que se venham o choro, as mãos nos cabelos, e os olhos pasmados e bruscos da saudade.
enfim achei um layout compatível com minha sensatez e mansidão.

Nós descobrimos a morte por obrigação
e tratamos de levar a vida pelo acaso;
entre ambos reside portanto o vácuo,
a vida sentida, tateada, o escuro barraco.
E no barco que vai navegando
sem saber muy bien pra que lados
vão cedendo todos os resmungos
do mundo sujo, os marujos natos;
Largando no porto uns
das dolores comuns
de amor imenso, irrelevantes casos
ou saltando pra proa alguns
pequenos grãos da dor
que os ventos trazem cumulados.
Há passagens pelas pedrinhas da felicidade breve
que tornam a onda insensível do tempo
mais digesta de um acesso lento,
quebrado,
da saudade.
E ainda que seja inteira a manhã do esquecimento
em bloco o gelo solto, nas jogadas de sorte
farejam o medo e os nossos finos cortes.
Os cubos brancos, cujos flancos, frios e coloridos
espumas, espasmos de brincar, amistosas
forjam de tudo para tentar tingir os ácidos sentidos
que não me saiam dos sonhos vivos, de cor saudosa.

Mesmo que eu esfregue a minha vista grossa
com a vistosa paisagem que rompe a lente
a ilusão redonda e brilhosa que venerei senhora
vai-se embora, me está ausente.
Está partido o mar de sonho
salgado, fundo e denso é o desespero de tantos
de reafirmar ser seca e pouca a fé de de todos anos,
que está doente.
Aguardam todos que a danada falsa e chique
abarrotada dos perfumes dos vivãns
percorra trajeto imundo e fique
borrada de vez com o manso amanhã
que a mente inventa, nos dias mais tristes.
O eldorado.

1 de out. de 2011

Gratidão- garrafas pet



Passei por tuas mãos
e senti tão bem o teu suor,
que com rigor te dei
nos favores incríveis da tua sede
o doce e o claro que tanto implorastes.

Mas por não mais possuir, completa
em tuas mãos, nem tua boca
cheia de necessidades falseadas
ganhei por troca ingrata,
sem chances,
amargo descarte.

E nesse maldito destino verde que me jogaste
no bater de sujas latas, o embate
assinaste por mal, meu bem, o teu emplasto desterro.

No vento lançada em desespero
e sem poupar-me do que é raro
de morto rebote, boiando no escuro
percorre-me lágrima e lodo
ao som das ratas que ama
o desprezo sujo.

A minha carcaça não morre, contudo
suporta os golpes mais duros,
(meu curvo corpo imune)
e minha alma remói
em cada mácula-vácuo, o teu futuro:

Se no sul ou norte nasceste
não vale mais que o sol
o orgulho do teu bairro
sequer quinze centos do meu montante em raiva
barata, porém eterna.

Se muito neste mundo venha fazer
tamanha água com teu choro
ou, se como pedra, ferro e tijolo
permaneceu seco e mudo
nem me darei conta
pois deles não sou feita.

Se o teu peito pulsa
ao invés de bater como o trivial
ou canta o teu coro em sambas ou bossas,
canastrões todos que me obrigaste a sentir,
o meus ritmos serão perpétuos
e minha canção, outra
toda alheia às tuas letras bregas,
tuas declarações dadas por hora.

Caso um dos teus cinco,
quatro ou dois pequenos
venham de tudo provar,
de tudo rir,
de todo te pondo no alto
saiba pois que deles
nem em memória lhes será guardada
porção mínima do teu asmático zêlo.

Começou com uma frase boba e confessional de uma mulher desprezada, que retalhou o marido em Dezembro de 1922; me chocou quando achei que parecia mais com uma garrafa a falar.
Sigo tentando terminá-la .desde 2006.
Black water




As enguias astronômicas, negras, rugindo da terra imunda amarronzada, exalada com consistente dolo pelas fezes caprinas das crianças pobres africanas transpuseram o vagão principal do trem em que eu, ou uma carcaça cover de mim aproximada, e outros desconhecidos viajávamos. Logo, de minhoquinhas pretas, se transformaram em sanguessugas, depois em cobras fecais imensas, infecciosas, que tomaram conta de toda a Terra; a bosta que fizemos desejava vingança, queria volta, já não era a nossa; os vales, a água pura, os algodoais bonitinhos de cinema já não eram iguais; eles eram agora negritude, darkness mesmo, da pior que há, da que quer troco; da que não engole calada os mandos que capricham , e lhes capricharam tanto, pra prova do abandono e da morte. As enguias agora querem tudo o que foi roubado, tudo o que elas nem sabem direito pra o que serve -o metal dos meus dentes canibais- Estão excitadas como najas azuis da descrença.

Nós, os nojentinhos, os chocadinhos, os de sapatos tão limpos, os turistas da existência himenóptero-urbana-sem-asas, agora vamos, nem pisoteamos, elevamos o salto; Não há mais botão de emergência, nem área de escape: a cidade, as armas, os trens, os aparelhos, o comando já não eram nossos. Era agora o tiroteio subterrâneo que sai, catando os calcanhares da gente.

Acordo e então escrevo olhando pro chão e pra televisão, enquanto o café preto treme, com a culpa e o medo bem disfarçadinhos. Amanhecendo.

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